Pedalar às escuras! Sim, mas com sentido



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O objectivo foi nobre e totalmente justificável.

Bárbara Pereira cegou à 4 anos e decidiu pedalar numa bicicleta tandem com o marido Ricardo, rumo a Santiago de Compostela com o objectivo de angariar 6500 euros para a Escola de Cães-Guia para Cegos, em Mortágua, única escola em Portugal.

Pedalar com Sentido foi o nome da campanha de crowfunding de Bárbara Pereira com  partida do Porto e chegada a Santiago de Compostela e foi a forma de ajudar a escola em jeito de agradecimento pelo trabalho que executam ao treinarem cães-guia e desta forma melhorar a vida das pessoas cegas.

A Bárbara ainda não tem o cão que tanta falta lhe faz, mas determinada e com coragem pedalou para também sensibilizar a sociedade para esta causa porque criar e educar um cão-guia custa 18 mil euros e a escola entrega o cão-guia ao utilizador sem cobrar nenhum euro e, como tal, os donativos à escola são um motor de alavanca para que esta prossiga com esta missão de educar os cães.

A pedalada da Bárbara já terminou mas a iniciativa continua e quem quiser apoiar ainda o pode fazer.

Luso.eu falou com Bárbara Pereira e conheceu as suas motivações. 

Luso.eu - Pedalar com sentido tem uma nobre missão. Concretamente, que é Pedalar com sentido e o seu objectivo?

Bárbara Pereira - Amissão da campanha Pedalar com Sentido é a angariação de fundos que irá assegurar um ano de manutenção do programa de reprodução da escola de cães guia para cegos, a única em Portugal. Um dos objectivos é também dar a conhecer o trabalho que a escola desenvolve e aquilo que o cão guia representa para uma pessoa cega. 

LE – Porque se decidiu por esta iniciativa?

BP – Resolvi criar a minha própria campanha quando percebi que grande parte do orçamento anual da escola advém de angariação de fundos, campanhas ou donativos. Uma vez que tantas pessoas trabalham para que eu e outras pessoas cegas tenham uma melhor qualidade de vida, fez todo o sentido tentar ajudar de alguma forma.

LE – De onde partiu e qual o ponto de chegada do Pedalar com sentido?

BP – Paralelamente à angariação de fundos a decorrer na plataforma PPL.pt, começamos a pedalar numa bicicleta tandem no dia 13 de outubro rumo a Santiago de Compostela, para chamar a atenção para a causa e também para me superar. 248 km depois, no dia 16 de outubro, concluímos este desafio e chegamos a Santiago!

LE – Quais foram os quilómetros mais difíceis?

BP -Para mim o terceiro dia foi o mais difícil. Os quilómetros que se seguiram a Pontevedra foram os que pesaram mais... 

LE – Quais as maiores dores físicas após o percurso determinado para um dia?

BP – Ao contrário do que pensava, fisicamente não tive dores muito fortes para além do cansaço natural por pedalar tantos dias seguidos. 

LE- Certamente , ao longo de todo o percurso histórias surgiram. Pode nos contar alguma?

BP - Numdos momentos em que estava mais cansada , surgiu um ciclista que estava a pedalar desde a Póvoa de Varzim. Já nos tinha visto numa entrevista e pedalou connosco por alguns quilómetros para nos dar força e apoio. Para mim foi como uma lufada de ar fresco! Estávamos esgotadíssimos e se não fosse esse apoio teríamos com certeza demorado o dobro do tempo a chegar até Pádron! Foi no momento certo!

LE – Para esta iniciativa contou com alguns apoios ou parceiros? Quais?

BP - Afederação portuguesa de ciclismo foi fundamental. Emprestou-nos uma bicicleta tandem para eu perceber se seria capaz de andar de bicicleta. Sem este apoio inicial, talvez esta aventura nem sequer começasse!

LE – Fez alguma preparação física para o Pedalar com sentido?

BP – Sim, eu e o Ricardo pedalamos vários quilómetros antes da viagem começar, para nos habituarmos à bicicleta, ao trânsito e claro para ter alguma preparação física!

LE – Literalmente foi pedalar às escuras. Quais as dificuldades e como tudo acontecia?

BP – Quando pedalei  pela primeira vez, senti receio do trânsito e de me assustar ou fazer algo de errado que provocasse uma queda… Depois,  com o passar dos treinos,  ganhei alguma confiança e esse medo desapareceu! Claro que temos de estar em sintonia e o Ricardo vai sempre dizendo quais os obstáculos que aparecem. A sensação de pedalar é libertadora e eu adoro.

LE – Ainda não é utilizadora de cão-guia. Ainda está na lista de espera. Que acha que o cão-guia lhe vai aportar na sua vida?

BP – Para mim o cão guia vai dar mais segurança! Provavelmente irei fazer os meus percursos de uma forma mais rápida e segura, para além de ser uma companhia para toda a vida!

LE – Existe uma mensagem que também pretendia que transparecesse? Qual?

BP – Que os limites estão na mente de cada um! A deficiência não define ninguém, é apenas uma característica da pessoa, e que todos juntos fazemos a diferença!

LE – Objectivo alcançado com o Pedalar com sentido?

BP – O objectivo foi plenamente conseguido! Fico muito feliz e grata a todos os que contribuíram com doações ou partilhas! Todos juntos conseguimos assegurar um ano de manutenção do programa de reprodução da escola de cães guia e divulgamos o excelente trabalho que fazem.

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Isabel Varela
Author: Isabel VarelaEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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