O crime perfeito. Mistério dura há 27 anos



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No dia 13 de maio de 1994 a pacata freguesia de Oleiros, em Vila Verde, despertava a atenção do país. Desaparecia, com sete anos de idade, a menina Cláudia Alexandra Silva e Sousa num percurso de apenas 400 metros entre a sua casa e a escola. Passados 27 anos do misterioso desaparecimento, a Polícia Judiciária de Braga (PJ) nunca conseguiu descobrir quer a menina quer criminosos. Em 2017 o processo foi destruído e a partir daí ninguém mais a procurou.               

O crime perfeito Alexandra, de família pobre. Justiça ordenou destruição do processo.

Para os mais supersticiosos, sexta-feira 13 é considerado dia de azar. Superstição ou não, o destino traçou como data de nascimento da Cláudia Alexandra (apelidada por “Carricinha”) uma sexta-feira 13 (de março de 1987) e como data de desaparecimento outra sexta-feira 13 (de maio de 1994).

Ninguém sabe dizer (ou se sabe nunca o disse) o que terá acontecido naquela tarde do dia 13 de maio de 1994. A Cláudia Alexandra só tinha aulas de manhã, mas, como os pais eram pobres, costumava passar as tardes na escola a brincar e onde lhe era dado o lanche. 

Naquele dia, uma funcionária da escola, de nome Goreti, pediu-lhe para ir a casa buscar sacos para o lixo (como a mãe, Maria de Jesus Alves da Silva, era – e continua a ser – tecedeira costumava ter bastantes sacos e era habitual esse procedimento). Naquele dia, a mãe disse-lhe não ter sacos e mandou a filha novamente para a escola, nunca tendo lá chegado. 

Começavam, então, as buscas à procura da miúda. Familiares, populares, escuteiros e a GNR da Vila de Prado passavam a pente fino as bouças e campos ao redor. Ao mesmo tempo, a PJ entrava em acção e começava por ouvir os progenitores e a funcionária da escola. 

Seguiram-se outras pistas (ver mais em baixo), todas elas com resultados nulos para aquele corpo superior de polícia criminal.

Voltei a dirigir-me ao lugar de Lamela, em Oleiros, para, mais uma vez, ouvir Maria de Jesus, agora com quase 60 anos. Se dantes sempre se mostrava esperançada em um dia voltar a ver a filha, agora as esperanças, com o passar dos anos, vão diminuindo e as suas palavras são de “sofrimento” atenuado por medicamentos e consultas médicas. 

Quem terá levado a Cláudia Alexandra? 

À minha pergunta “desconfia de alguém?”, Maria de Jesus, volvidos todos estes anos, foi rápida a responder: «Até prova em contrário, a mim ninguém me consegue convencer doutra coisa. Foi a minha prima Maria Júlia que me roubou a minha filha. Ela morava aqui ao lado e não apareceu em casa na sexta-feira (dia do desaparecimento), no sábado, nem no domingo. Onde é que ela esteve? – Questionou.

Na altura, a PJ interrogou Maria Júlia e nada deu como provado. A mãe da Cláudia ainda hoje não se conforma com esse desfecho e garante ter ficado contra os agentes policiais por, segundo referiu, «não terem “apertado” com ela».

No entanto, convém salientar que, na altura, Maria Júlia tinha emprego em Famalicão e poderá ter sido essa a razão da sua ausência de casa. 

Maria Júlia terá pedido uma filha a Maria de Jesus

Outra informação, dada pela mãe da Cláudia, tinha a ver com o facto de, dias antes deste acontecimento, a sua familiar lhe ter pedido a filha mais velha para ir trabalhar para casa dos seus patrões, ameaçando-a que se ela não a deixasse ir acabaria por levar uma delas. A PJ interrogou-a, também, a este propósito e desvalorizou a pista. 

Uma tia de Cláudia foi ao Registo Civil pedir uma certidão de nascimento da sobrinha sem consentimento dos pais

Na altura, parecia uma informação extremamente relevante para a PJ. Uma irmã do pai da Cláudia, chamada Maria Ana, dirigiu-se ao Registo Civil para pedir uma segunda via da certidão de nascimento da sobrinha sem qualquer consentimento dos pais.

A PJ interrogou Maria Ana, tendo ela dito que o tinha feito a pedido de outra irmã, a qual mora em Vila Nova de Gaia. Disse, também, aos agentes que tinha ouvido dizer que os pais teriam vendido Cláudia por 400 contos.

A PJ foi, então, ouvir a tia de Gaia. Esta explicou que, como corriam rumores que a sobrinha pudesse estar em Espanha, contactou a Guardia Civil, a qual lhe terá dito que só poderia investigar na presença desse documento.

A certidão ainda não tinha sido enviada, continuava na posse de Maria Ana, e, quanto ao facto de não ter dito nada ao irmão e à cunhada, justificou-se que “iriam recusar”, uma vez que se falava que eles a teriam vendido.

Maria de Jesus estranha a decisão da cunhada.

Os pais foram acusados de a terem vendido

Alguns habitantes de Oleiros nunca se convenceram com este desaparecimento e falaram/falam numa “história muito mal contada”, onde a hipótese da Cláudia ter sido vendida pelos pais nunca foi posta de lado.

Sobre esta hipótese, Maria de Jesus disse: «Estou rica, não estou? Um filho nunca se dá nem se vende. Eu, e o meu falecido marido, fomos, injustamente, acusados de termos vendido a nossa filha. Só espero que quem nos acusou disso nunca sofra o que eu sofri». 

Rosa Cunha terá sido a última pessoa a ver a Cláudia

Rosa Cunha morava a meio do trajecto percorrido por Cláudia entre a sua casa e a escola. Naquele dia terá visto a miúda a passar a correr junto do seu portão em direcção ao estabelecimento de ensino. Logo de seguida diz ter ouvido as portas de um carro a bater e, a partir de então, a Cláudia nunca mais foi vista.

Um carro estranho circulou por ali

Um carro, velho e preto, circulou frente à casa dos pais da Cláudia. O condutor, segundo Maria de Jesus, terá sido visto primeiro sem barbas e depois com umas barbas grandes.

Os pais processam o pároco da aldeia

Correram boatos que o pároco da altura daquela aldeia, padre Gabina, saberia onde estava a Cláudia Alexandra (ter-lhe-ia sido contado no confessionário). O sacerdote foi chamado ao Tribunal de Menores depois de lhe ter sido movido um processo pelos pais da desaparecida. O padre negou e o processo foi arquivado.

Dias sem comer quase nada e noites sem dormir

«Foram dias sem comer quase nada e noites sem dormir. Só pensava onde estaria a minha filha. Cheguei a estar internada e ainda tentei fugir de casa», lembrou a mãe da Cláudia Alexandra.

Habitante de Vilar Formoso diz ter visto a Cláudia 

Um habitante de Vilar Formoso ligou para a PJ a informar ter visto naquela vila a menina de Oleiros na companhia de dois homens altos. Deslocaram-se a uma caixa multibanco e voltaram a entrar num carro de matrícula francesa da qual a testemunha tirara registo. Foi pedida a intervenção das autoridades francesas, as quais acabariam por confirmar que o veículo em questão nunca teria circulado em território português e que a descrição feita pela testemunha em relação à menina não coincidia com ela. 

O processo foi destruído

Em 2017 a justiça ordenou a destruição do processo. A partir daí ninguém mais procurou a menina de Oleiros. Até a própria mãe, que sempre manteve esperanças em um dia a ter de volta, começa a acreditar ser difícil de a voltar a ter nos seus braços. «Antes disso, morreu-me um filho e eu sei onde ele está. Da Cláudia eu não sei nada. E isso é uma dor sem explicação», finalizou Maria de Jesus.

As dúvidas permanecem e as certezas nunca foram muitas. No entanto, há uma coisa que todos sabemos – A menina de Oleiros, agora, se for viva, com 34 anos, continua desaparecida sem ter deixado rastos e deixou uma família inteira em sofrimento, fez em, 13 de maio, 27 anos.

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