Presidenciais: Pandemia limitou campanha e interesse dos debates aumentou - politólogos



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(Lusa) – A pandemia afastou a campanha da rua e os confrontos televisivos ganharam relevância mas as características dos candidatos e um Presidente recandidato que, segundo polítologos ouvidos pela Lusa, "evita fazer campanha", também justificam o interesse acrescido dos debates.

Desde os primeiros dias de janeiro que, todas as noites dois ou três frente-a-frente entre os candidatos presidenciais às eleições de 24 de janeiro entram por casa dos portugueses, transmitidos pela RTP, SIC e TVI, em canal aberto ou por cabo.

Entre os espaços de comentários das próprias televisões, as notícias dos outros órgãos de comunicação social e as redes sociais, os debates são depois escrutinados, analisados e até notas recebem.

Ouvido pela agência Lusa, André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, partilha da “perspetiva que os debates estão provavelmente a ter mais relevância do que aconteceu noutras eleições da mesma natureza”, escolhendo a pandemia como o primeiro fator para que isto aconteça.

“A pandemia e o facto de outro tipo de ações de campanha e de rua estarem fortemente limitados, as próprias pessoas estão mais tempo em casa e, portanto, consomem mais televisão e outros meios. Com uma redução do espaço público, físico, fora de casa há uma concentração maior na comunicação social e na internet”, justifica, admitindo que os debates despertem mais interesse “até de algumas pessoas que de outra forma não prestariam tanta atenção”.

No entanto, o especialista não vai ao ponto de dizer que serão decisivos na escolha do vencedor das eleições.

Posição semelhante tem António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, referindo que, como consequência da pandemia, se tem assistido a “uma maior utilização por parte dos portugueses da televisão e de outros meios de informação, em grande parte porque estão mais em casa”.

“Nós estamos a viver uma pré-campanha eleitoral relativamente anormal porque os meios habituais das campanhas eleitorais não estão a ser utilizados e há uma quase exclusiva campanha realizada nos meios de comunicação social, com os debates”, aponta, o que se reflete numa “importância maior dos debates”.

Apesar disso, António Costa Pinto avisa que “vale a pena relativizar”.

“Algumas ‘leis’ informais que têm caracterizado a democracia portuguesa no que toca a campanhas eleitorais para a Presidência da República, nós sabemos que as taxas de abstenção são mais elevadas quando um Presidente se recandidata a um segundo mandato e muitas vezes quando, como tem sido o caso sempre até agora, esses presidentes têm no fundamental - salvo algo que não estamos a ver agora - a sua reeleição assegurada”, refere.

Para André Azevedo Alves há mais dois fatores que contribuem para esta maior expectativa em relação aos debates, um dos quais “a natureza de alguns dos candidatos”, como André Ventura ou Ana Gomes.

Para o investigador, o candidato André Ventura gera, "quer entre apoiantes quer entre não apoiantes, um grau de polarização grande, com sentimentos bastante fortes de ambas as partes".

Ana Gomes, também estreante como candidata presidencial, suscita, pelo perfil de intervenções públicas no passado, "suscita talvez uma expetativa maior", considera.

“Somaria um terceiro aspeto que acaba por dar mais centralidade aos debates que é a própria opção de Marcelo Rebelo de Sousa de fazer campanha não fazendo campanha”, acrescenta.

O politólogo considera que o atual Presidente da República e recandidato optou "por fazer uma campanha que consiste em evitar o mais possível fazer campanha”, e ir aos debates “é uma espécie de cumprir os mínimos necessários para umas eleições”.

Para o investigador, estes frente-a-frentes na televisão são “quase os únicos momentos em que há alguma possibilidade de olhar para Marcelo candidato”.

“Esticou ao máximo o exercício de funções enquanto Presidente da República não recandidato e procurou encurtar ao mínimo o período enquanto candidato. E depois, no período em que é candidato, procura restringir ao mínimo as intervenções enquanto candidato”, considera André Azevedo Alves, o que entende como “uma estratégia deliberada, política, de candidato”.

Já Costa Pinto afirma que esta decisão de Marcelo de ir aos debates “é um risco calculado”, lembrando que “nem todos os presidentes no passado aceitaram fazer este número de debates”.

“O risco é Marcelo ter que, com limites, descer da sua posição presidencial para confrontar candidato a candidato”, admite.




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