Desconfinamento e agora? Posso voltar a "casa"?



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O novo coronavírus, denominado por Covid-19, surge oficialmente nos finais de Dezembro, na China, mais concretamente Wuhan, onde foi dado o primeiro alerta a 31 de Dezembro de 2019. Uma cidade que ficará na história talvez pelos piores motivos. Trata-se de um vírus que se espalhou rapidamente e em três meses teria atingido praticamente todo o mundo: mais de 150 países e territórios.

A 9 de Janeiro morre o primeiro paciente infectado pelo vírus. E o número não parou de aumentar até hoje. Atingiu a Europa em finais de Janeiro, na França, já depois de ter chegado a solo norte-americano. Começou por se propagar mais rapidamente em Itália e espalhou-se pelos restantes países.

Conforme os dias passavam, o número de casos aumentava exponencialmente. Depois da Europa, seguiram-se a América do Sul, África, Austrália e um pouco por todo o lado iam surgindo nas televisões e jornais internacionais mais relatos, mais casos de infectados e mais mortes. Funerais uns a seguir aos outros, sem quase familiares e amigos para os chorar, hospitais e sistemas de saúde em colapso e um escolher quem pode viver ou quem morre… Em pouco tempo, todos os governos mundiais e os meios de comunicação viraram as suas atenções para o que se estava a passar. Apresentada inicialmente como uma espécie de gripe sazonal, o mundo passou a travar uma batalha com uma pandemia, decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a 11 de Março de 2020, que a cada dia revela novos sintomas e muito dela se desconhece ainda.

Por todo o lado do mundo surgem medidas de contenção. Fecham-se escolas. Depois áreas comerciais e de restauração, eventos culturais, desportivos e de grande escala são cancelados. Países fecham as fronteiras. Os cidadãos passam a ter de trabalhar a partir de casa, nos casos possíveis e outros ficam em modo de layoff. Estabelecimentos fecham portas com incerteza de quando e se as poderão voltar a abrir. A situação agrava-se de tal forma que vários países vêm-se par a par com uma quarentena obrigatória. Os aeroportos fechados. Só vôos de mercadorias. As imagens de aviões estacionados nos mais variados  aeroportos mundiais circula pelas redes sociais e chocam os mais sensíveis.

Por todo o lado circulam mensagens de esperança. Arco íris pintados por crianças onde se pode ler: “vai ficar tudo bem”. As aulas são dadas em casa com o auxílio dos pais, através da Internet e/ou exercícios de estudo. Surgem sessões de ioga online. Fitness nas varandas, com vizinhos como personal trainers. Músicos com falta de palco, aproveitam as suas varandas, jardins e páginas de Facebook, para dar concertos gratuitos aos seus vizinhos e aos que os seguem no mundo virtual. O enclausuramento acentua a criatividade e artistas e não artistas chamam a atenção com os seus vídeos que circulam pela web.

A distância física aproxima as pessoas emocionalmente. São mais frequentes os telefonemas, as chamadas de vídeo, as mensagens com o intuito de saber se está tudo bem com quem nos faz falta. Pela primeira vez, as pessoas vivem o que os emigrantes de alguma maneira já conheciam. O estar perto de alguém só pelo telefone e a gratidão por se terem inventado tantas formas de comunicação à distância. A saudade sendo atenuada pela imagem que o vídeo e as fotografias que se recebem e se enviam, mas que não tiram aquela vontade de estar perto, junto de quem se ama, sentir os seus abraços, beijar quem amamos, sentir o cheiro que lhes é familiar e que com o tempo se tem medo de perder. 

É a partir de Maio que, aos poucos, depois de tantas medidas, de tanto esforço e confinamento, alguns resultados começam a surgir. Sem uma vacina, as medidas passam pelo distanciamento social e a higiene. Com a redução do número de infectados e mortos por dia, os países começam a tentar regressar à normalidade. Mas um normal que se apresenta como estranho. O medo e os cuidados são visíveis em quase todos os países e as mentalidades alteram-se.

Há ainda muitos que não se preocupam e os polícias continuam a ter de passar multas e a controlar os aglomerados de cidadãos, que teimam em não respeitar as medidas impostas por estados de calamidade, decretados em quase todos os países. O que antes não era para ser utilizado por dar uma falsa sensação de segurança, é agora obrigatório nalguns países em locais e transportes públicos - a máscara.

Por todo o lado vêem-se rostos cobertos com máscaras e olhares de dúvida e incerteza, de medo. As fronteiras começam a reabrir. O governo português convida os seus emigrantes a regressar, apesar do parlamento europeu desaconselhar viagens, especialmente para fora da Europa. Mas e os emigrantes? E as férias de Verão pelas quais anseiam o ano todo? Será que vão conseguir ficar um Verão sem visitar os que esperam ver há um ano ou dois? Será que o receio de infectar e ser infectado falará mais alto e ficarão no país que residem? Ou o medo não tem tanta força como a saudade?

Em conversa com alguns emigrantes na Suíça, o medo do vírus é notório, mas mesmo assim nem todos adiam viagens. A vontade de estar com a família e certificar-se que estão bem. A reunião entre casais, entre pais e filhos, que não se vêm por conta desta pandemia, e/ou alguns por outras questões que já não estão juntos há mais anos, é mais forte. “Medo já temos até aqui também, não vamos andar a beijar toda a gente e as pessoas têm de entender isso, porque cuidados teremos de ter sempre! E passeios claro que é para esquecer”, realça Vera Pereira, emigrante na Suíça.

Andreia Nogueira já tem os planos de viagem traçados, para que os cuidados sejam maiores: “se a evolução em ambos os países se mantiver positiva, se nos deixarem atravessar as fronteiras, irei sim. Mas este ano levarei farnel pela primeira vez para não ter de parar em restaurantes com as minhas filhas”. A mesma acrescenta ainda que a ida dela com a família a Portugal não será um risco acrescido. “Nunca estivemos 100% salvaguardados, o meu marido nunca parou de trabalhar e todos com quem queremos estar, também nunca pararam de trabalhar. Muitos querem esperar pela vacina, mas não sabemos ao certo quando surgirá nem se será 100% eficaz, o mais importante será habituarmo-nos ao que neste momento é o nosso normal e viver com isso”.

Ao contrário, Carla Patrícia Freitas diz que de férias só irá quando souber que é 100% seguro: “se não voltar ao normal, este ano irei só de férias aqui na Suíça com os meus filhos. Viajar de avião só para Outubro ou Fevereiro e se as coisas normalizarem”.

Também Cristina Correia Teixeira acredita que para o bem da sua família tanto em Portugal como na Suíça, será melhor evitar ir de férias para Portugal ou qualquer outro país este ano. Como ela tantos outros emigrantes optam por ficar onde estão a residir. Mesmo que isso implique ficar mais de dois anos sem ver a família, como Sónia Teixeira: “ainda não decidimos se vamos, porque me parte o coração estar há dois anos sem ver a minha família, mas conforme o desenvolvimento das coisas decidirei. Tenho dois bebés pequenos e tenho receio que algum de nós fique infectado”.

No entanto, muitos emigrantes apesar de saberem que este ano não será para férias normais de praias e passeios, não colocam a hipótese de ficar em solo helvético a não ser que seja proibido. Porque segundo os mesmos, uma vez que foi garantido não ser necessária a quarentena, a viagem será realizada. Além de que o vírus para os mesmos é algo com que se tem de aprender a viver. Não dá para fugir. “Viver a medo não é viver”, como refere Célia Rodrigues.

Muitos emigrantes referem o facto de terem sempre estado expostos ao vírus, já que nunca pararam de trabalhar. Assim a ida a “casa” irá servir também de terapia e para certificar que os seus estão bem e podem ser abraçados. Com as devidas precauções de higiene: “este ano não irei directo dar aquele abraço logo à minha mãe, irei para casa tomar banho e depois sim, mami!!! Temos de aprender a viver com esta nova realidade. Se tenho medo, tenho... mas com Deus no comando vou”, diz Marta Giroto, também ela emigrada na Suíça.

Os emigrantes sentem-se na generalidade seguros para poderem ver os seus entes queridos no mês de Agosto. Talvez o mês dos emigrantes, terá de ser um pouco diferente este ano, com mais cuidados, mais comedido e mais distanciado. Talvez com menos emigrantes do que é costume. Mas talvez ter receio de uma doença desconhecida seja mais fácil perto de quem se ama. Muitos dos portugueses que se encontram em Portugal nas redes sociais revelam-se contra esta “invasão” de emigrantes e que este ano seria desanconselhável. Não conseguirão os emigrantes respeitar as medidas da mesma forma que os portugueses residentes?

À questão do apelo do governo aos emigrantes de fazerem na mesma férias, junto com a vontade dos mesmos sentirem o cheiro das terras que os viram crescer, se isso poderá piorar o cenário que se vive tanto no país que se vive como aquele que se quer visitar? Ninguém pode saber ao certo, só os números posteriores poderão dar a resposta e cabe a cada um reflectir sobre isso, fora e dentro do seu país de origem. 

 

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Carla Pimenta
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