EDUCAR NA PANDEMIA



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Estamos perante o desafio de se implementar de supetão um modelo de Educação com o qual não estamos familiarizados: o Ensino a Distância (“a” e não “à”, como muitas vezes se ouve). Se certamente haverá consensos relativamente à necessidade de se prosseguir com o acompanhamento educativo das nossas crianças e jovens, prosseguindo com a missão de formação integral do indivíduo, de desenvolvimento da sociedade e de prossecução da democracia, muitas dúvidas há sobre os procedimentos a adotar.

E é apenas natural que os haja. Não estamos perante uma necessidade pontual de adaptar o ensino face a uma impossibilidade de participação presencial, como é o caso dos filhos de profissionais itinerantes ou de jovens atletas de alto rendimento, que de forma voluntária e dispondo do equipamento necessário, optam pelo ensino a distância. Estamos perante uma obrigação que decorre de uma necessidade. Esta é uma situação que envolve toda a tipologia de alunos e famílias, desde aqueles que dispõem de meios técnicos àqueles que nem conseguem aceder à internet. Tanto estamos perante alunos empenhados, de famílias que valorizam a educação, como de alunos desinteressados ou desmotivados, de famílias para as quais a Escola pouco mais significa do que o dever de frequência. Se já é uma labuta envolvê-los nas atividades presenciais, então à distância… Por outro lado, não podemos descurar que experienciamos novas dinâmicas sociais e familiares, que exigem uma grande adaptação a novas rotinas e a gestão de uma série de emoções associadas ao confinamento social e ainda para mais num espaço muito reduzido. As famílias vivem momentos difíceis de gerir, especialmente as que têm crianças, e não podemos esquecer que o ensino a distância exige uma grande disciplina e acompanhamento, este também dificultado, visto que os pais também se encontram a trabalhar, mesmo que seja em regime de teletrabalho.

O ensino a distância não se reduz ao ensino online, implica a alteração de processos de ensino/aprendizagem, a adaptação a novas plataformas de comunicação e coloca sérias exigências no que concerne ao acompanhamento dos alunos, em especial os alunos com currículos adaptados, necessidades educativas especiais ou do ensino artístico. Colocam-se dúvidas no que respeita à avaliação do processo e não apenas do produto de aprendizagem, bem como quanto à garantia da autoria dos trabalhos apresentados pelos alunos aos professores, de entre outros. A diversificação de procedimentos de ensino constitui um mecanismo para potenciar a sua eficácia, mas não esqueçamos que se requer aos professores que trabalhem, em muitos casos, com vários grupos/turma com mais de 20 alunos cada.

Todas estas condições colocam em causa a individualização, a adaptação e a qualidade do ensino. E não tenho dúvidas de que no próximo ano escolar vai haver necessidade de colmatar estes problemas, numa situação que, por muito que não se queira, gera discriminação social. Seria, assim, muito mais avisado que, nas disciplinas não sujeitas a exames de acesso ao ensino superior, se enveredasse pela consolidação e/ou abordagem exploratória de conhecimentos, ao invés de se prosseguir com o cumprimento de currículos. Situações excecionais requerem respostas excecionais, mais flexíveis e ajustadas.

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Author: Sofia Heleno RibeiroEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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