As falsas Vitórias das Autárquicas



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Terminadas e apurados os resultados das eleições autárquicas de 26 de Setembro de 2021, se houve vitórias inesperadas, olhando para os totais nacionais verificamos que houve derrotas que terão politicamente de se assumir. Sem dúvida, o Partido Socialista (PS) manteve-se como o partido mais votado, com o maior número de Câmaras e freguesias, com mais do dobro dos votos do Partido Social Democrata. Talvez o único e inesperado dissabor tenha sido a perda de Lisboa para Carlos Moedas.

A Coligação Unitária Democrática (CDU), liderada pelo Partido Comunista Português (PCP) vai de derrota em derrota até à derrota final. Nestas eleições autárquicas passou de 24 para 19 autarquias. Para além destas perdas teve dois grandes dissabores, perdeu Loures (a joia da coroa Comunista) para o PS, depois de a ter recuperado há oito anos, e em Almada, onde apostou todas as fichas em Maria das Dores Meira - antiga presidente de Setúbal - não só não ganhou como viu a Candidata do PS, Inês de Medeiros, aumentar a diferença. Na minha opinião são dois os motivos para esta perda sucessiva de eleitorado por parte do PCP. Uma primeira tem a ver com o facto de o PCP ser talvez o único partido Comunista Europeu que não se reinventou, continuando hoje com o mesmo discurso de 1976. Temos a sensação que, para o PCP, o Muro de Berlim ainda não caiu, a URSS ainda existe e o discurso já não tem a adesão que tinha nesses tempos, porque se mudam os tempos e mudam as vontades. Por outro lado, o PCP está a pagar o preço de fazer parte da geringonça, deixou de ser um partido de contestação e aburguesou-se, o que desiludiu muito do seu eleitorado, sem esquecer que o tecido sindical mudou e que as novas tecnologias e os novos modos de produção reduziram as chamadas classes trabalhadoras que eram o sustentáculo, nas áreas urbanas, do PCP.

O Bloco de Esquerda praticamente desaparece do panorama autárquico Português, na verdade nunca existiu.

O CDS, dado como morto no início desta campanha, conseguiu manter as suas seis Câmara municipais e ganhar um vereador no Porto e dois em Lisboa, mas perdeu quase metade do seu eleitorado.

O Chega, que era uma estreia em eleições autárquicas, teve um desempenho assinalável, 19 Mandatos e 208 mil votos, o triplo das legislativas de 2019, onde obteve 67 mil votos, mas metade dos votos de André Ventura nas presidenciais.

Quanto ao PSD, que propositadamente deixei para o fim, apesar de ter conseguido algumas vitórias importantes, como a vitória em Lisboa, a recuperação do Funchal, Portalegre, Coimbra, muito mais fruto do trabalho local do que de Rui Rio ou dos seus afluentes, quando fazemos uma análise, mais fina, dos resultados globais do país, verificamos que o PSD de Rio teve uma derrota exemplar. Se não vejamos: nas autárquicas de 2017 o PSD sozinho conseguiu 493 mandatos e 831.536 votos, nas autárquicas de 26 Setembro de 2021 o PSD sozinho obteve 437 mandatos e 660.436 votos, ou seja, de 2017 para 2021 perdeu 56 mandatos e 171.100 votos.  Por outro lado, o PS obteve mais 1.050.823 votos que o PSD.  Pelos números, facilmente se verifica que este PSD não obteve um excelente resultado nas autárquicas, como defendem os seus dirigentes, e está muito longe de ser alternativa ao PS. 

Os grandes vencedores das autárquicas continuam a ser os independentes, apesar de todas as estratégias para lhes dificultar a vida. Em 2001 eram 31 eleitos (entre presidentes de câmara e vereadores), agora são já 134. Os Grupos de cidadãos independentes são já a quinta força política autárquica. Algo está a mudar no panorama político português. 

Fernando Vaz das Neves

(Artigo escrito de acordo com a antiga ortografia)

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Fernando Vaz Das Neves
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