O “amigo” de décadas já não suporta os amigos. E escreve, preto no branco, o manual para os destruir.
A nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA é um aviso brutal à Europa. Os sinais já vinham há muito, mas agora estão por escrito.
Washington descreve uma Europa “em declínio”, ameaçada por um “apagamento civilizacional”. Não é análise estratégica. É um obituário.
A Casa Branca declara, abertamente, que vê com “grande otimismo” a ascensão dos “partidos patrióticos” europeus e defende apoiar forças políticas internas que “resistam à trajetória atual da Europa”. Traduzindo: intervir na política europeia para fragilizar a UE, dividir governos e aprofundar fraturas internas.
Nisso alinha com Putin, que anda há mais tempo a acarinhar partidos eurocéticos. Sabemos quais são. Não é neutralidade, é uma estratégia de subversão. É coerente com o resto do texto: veto implícito à adesão da Ucrânia à NATO para agradar a Moscovo; aceitação de “zonas de influência” russas; pressa em negociar uma paz desfavorável a Kiev; acusação de que os europeus “prolongam a guerra” — em linha com propaganda do Kremlin.
A leitura do documento deveria abalar capitais europeias. Revela que quem ameaça hoje o projeto europeu não está apenas em Moscovo. Está também em Washington.
Se a Europa não acordar agora, acordará quando já não houver projeto europeu para defender.


