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O mundo caminha para uma encruzilhada que poderia ter saído de um guião cinematográfico.  Ao ver Elon Musk e Donald Trump lado a lado, a imagem que me vem à mente é a de um filme de James Bond. O som do genérico de 007, tocado pelos The John Barry Seven and Orchestra, ecoa, e sou transportado para um cenário onde o destino do planeta está em jogo.

Imagine um supervilão não como um caricaturado megalómano com um plano para destruir o mundo, mas um visionário excêntrico, movido por um desejo de dominação universal. James Bond, como sempre, é o homem destinado a derrotar esses vilões de planos mirabolantes, e Elon Musk, o magnata das tecnologias futuristas, poderia facilmente ser um deles. A comparação não é gratuita.

Assim como os antagonistas da franquia 007, Musk possui um poder imenso, associado a um desejo insaciável de controlo. A diferença entre herói e vilão é uma linha ténue, que ele atravessa com a mesma facilidade com que inova. Citando o próprio Bond em diálogo com Ernst Stravro Blofeld em “007 contra Spectre”, filme de 2015: “Visionary? Asylums are full of them!”. Algo como o pérfido Dr. No, mas com uma diferença crucial: ao invés de uma estação espacial para desencadear uma guerra nuclear, temos foguetes para colonizar Marte e carros elétricos.

Nos filmes de Bond, os vilões têm características em comum: são poderosos, com recursos praticamente ilimitados, megalómanos que querem controlar o mundo, tornando-o uma extensão de si. Para isso, não hesitam em usar qualquer tecnologia, governos e até a própria humanidade como meros peões no seu jogo global.

Musk apresenta-se como um salvador com a chave da razão — é esta dimensão que o torna perigoso. Num momento, ele é o herói, que traz um futuro mais sustentável e tecnológico. No outro, ele é o vilão, dono de uma visão de mundo que depende do controle absoluto de novos impérios tecnológicos e uma crescente concentração de poder nas mãos de uma elite oligárquica que navega nos meandros do poder político, alinhando-se com os interesses que lhes são mais favoráveis, apresentando-se como um jogador oportunista.

O seu poder, como o dos vilões de Bond, consegue influenciar economias, moldar mercados e até mesmo alterar o curso de eventos globais, tais como eleições. Exemplo do seu apoio direto ao partido protonazi AFD da Alemanha.

Musk funde-se com Dr. No, cientista tanto genial como destrutivo nas suas incursões para destruir o programa espacial dos EUA, com Boris Grishenko e a sua “Goldenye” capaz de criar o caos nos sistemas financeiros do mundo ou com o magnata dos média Elliot Carver que usa o seu império de jornais e televisões satélites para criar noticia falsas e realidades paralelas com o intuito de meter Estados uns contra os outros e fomentar a guerra.

O domínio das tecnologias de ponta, dos carros elétricos à exploração espacial, coloca-o numa posição única. Mas o perigo está em como ele utiliza esse poder, porque pode ser perigosamente totalitário. No fim, a verdadeira questão não é se Musk é vilão ou herói, mas se ele sabe controlar o poder que tem em mãos.

É curioso que James Bond, no seu último filme, responda indiretamente a Musk: “History is not kind to men who want to be God.” Um alerta para o perigo de acreditar que alguém pode ter o poder absoluto para decidir o destino da humanidade, colocando-se acima dos Estados e das convenções.

Como trilha sonora deste filme, nada melhor do que a música que Paul McCartney escreveu para 007- Live and Let Dieem 1973: “But if this ever changing world, in which we live in, makes you give in and cry; say live and let die.” O mundo, para o bem e para o mal, está em “suspense”.

No final deste filme real, não espero ouvir o mítico “My name is Bond, James Bond”. Porque, sejamos francos: não acredito na ideia de que se possa salvar o mundo. O mundo não se salva — o mundo transforma-se a cada dia. E Musk, como a suas “X guns”, é um reflexo disso.

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