Bruxelas, 12 de maio de 2025 – Ao longo de 50 anos de democracia, Portugal viveu períodos de esperança, reformas estruturais e modernização. Mas a história política do país está igualmente marcada por erros estratégicos e decisões mal calibradas que condicionaram o seu desenvolvimento económico, social e institucional.
Da má gestão de recursos públicos à falta de visão a longo prazo, muitos destes erros continuam a produzir efeitos nos dias de hoje, minando a confiança dos cidadãos nas instituições e alimentando o ceticismo face à classe política. O país que soube sair da ditadura com paz e construir um Estado social robusto tropeçou, no entanto, repetidamente em velhos problemas: centralismo excessivo, corrupção, promessas não cumpridas e políticas de curto prazo.
Este retrato crítico não pretende desvalorizar os progressos alcançados, mas sim colocar em evidência os principais falhanços que, acumulados, têm impedido Portugal de atingir o seu verdadeiro potencial. Entre eles, destacam-se:
1. Má gestão orçamental e endividamento excessivo
Portugal enfrentou crises orçamentais crónicas que culminaram, em 2011, na intervenção da troika. A dependência do crédito externo, aliada a políticas públicas insustentáveis, expôs fragilidades estruturais na governação económica.
2. Desinvestimento na Saúde e na Educação
Cortes sucessivos e reformas instáveis prejudicaram dois pilares do Estado social. A falta de continuidade política e de investimento consistente traduziu-se em greves, listas de espera e um sistema educativo desigual.
3. Abandono do interior e centralização excessiva
O foco quase exclusivo em Lisboa e Porto deixou vastas regiões do país entregues à desertificação. A ausência de políticas eficazes de coesão territorial agravou disparidades e reduziu oportunidades fora dos grandes centros.
4. Corrupção e falta de transparência
Casos como os dos vistos gold, BES, Operação Marquês ou as polémicas com nomeações políticas minaram a confiança pública. A justiça lenta e a percepção de impunidade continuam a ser obstáculos à renovação do sistema.
5. Desvalorização da diáspora portuguesa
Apesar de mais de dois milhões de portugueses residirem no estrangeiro, os governos têm falhado na criação de políticas eficazes de integração, apoio consular e reconhecimento político da diáspora.
6. Incapacidade de implementar reformas estruturais
Muitos governos anunciaram reformas ambiciosas, mas poucas saíram do papel. A reforma do sistema fiscal, da justiça e da administração pública continuam adiadas, prejudicando o investimento e a competitividade.
Conclusão
Portugal é um país com imenso talento, cultura rica e uma população resiliente. Mas para ultrapassar os seus bloqueios históricos, precisa de uma política diferente: mais transparente, participativa, planeada a longo prazo e livre de ciclos eleitorais imediatistas. Só com coragem e compromisso será possível transformar erros em lições — e construir um futuro mais justo e eficaz para todos.