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Entre a Fé e o Incómodo dos Residentes. Nos últimos anos, várias paróquias têm adoptado a prática de transmitir missas ao ar livre através de alto-falantes, permitindo que os fiéis que não conseguem deslocar-se até à igreja acompanhem as celebrações. 

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Essa inovação, que visa facilitar a participação e evangelizar, é louvável, mas suscita uma questão que merece reflexão: até que ponto o direito de praticar e difundir a fé pode sobrepor-se ao direito ao sossego do Domingo dos moradores nas imediações?

Com o objectivo de aumentar o alcance das celebrações, algumas igrejas têm explorado sistemas de som que projectam as suas vozes para longe, utilizando torres e alto-falantes. Esta prática, que ganhou destaque durante a pandemia, quando as missas presenciais foram restringidas, apresenta um dilema. Embora a intenção seja positiva, a experiência mostra que nem todos se sentem confortáveis com o barulho das celebrações a invadir as suas vidas, especialmente em horários e dias em que o descanso é valorizado.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal brasileiro A Hora, muitos residentes em áreas próximas a igrejas que utilizam alto-falantes exprimem o seu descontentamento, citando a perturbação causada por este tipo de transmissão. A questão torna-se ainda mais crítica quando consideramos a diversidade de crenças e estilos de vida que compõem a vizinhança. A liberdade religiosa é um direito essencial em qualquer sociedade democrática, mas a imposição de sons provenientes de alto-falantes, mesmo que para fins sagrados, pode ser interpretada como uma violação do direito de terceiros ao silêncio e à tranquilidade da população.

Através de um exame crítico desta questão, é importante encontrar um equilíbrio. A Igreja, ao transmitir as suas missas para o exterior, deve considerar a legislação referente ao ruído e a reclamações da comunidade. A definição de horários adequados e a intensificação de iniciativas que respeitem as normas de convivência social são passos fundamentais.

A prática de transmitir missas ao ar livre pode, sem dúvida, enriquecer a experiência espiritual para muitos, mas é imperativo que tal acção não seja feita à custa do bem-estar e do conforto dos cidadãos que optam por não participar. Atendendo às queixas da comunidade, as paróquias podem procurar alternativas, como transmissões com menor volume, horários específicos ou mesmo a utilização de tecnologia que permita um acesso mais discreto às celebrações, por exemplo através das redes sociais.

A questão da missa transmitida para o exterior da igreja por alto-falante é um assunto que merece um debate profundo. A convivência harmoniosa entre a expressão da fé e o respeito pelo espaço dos outros é um desafio que deve ser encarado de frente, na senda de soluções que satisfaçam ambas as partes, promovendo a paz e a diversidade que enriquecem a vida em comunidade.

 

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