Parceiros

(Tempo de leitura: 2 - 4 minutos)


Já em 2022 se verificou na Suíssa uma subida astronautica do Chega mas mesmo assim o Partido Socialista teve uma vitória deslumbrante e conseguiu eleger dois Deputados no círculo eleitoral da Europa, Paulo Pisco e Nathalie de Oliveira. Nathalie de Oliveira foi festejada pela comunicação social como a primeira deputada luso-descendente.

A filha do salto foi por algum tempo a esperança para as Comunidades, mas caíu rapidamente no labirinto do quotidiano parlamentar. E do seu tempo parlamentar nada consta de uma forma sustentável. Essa esperança desfez-se em frustação e descontentamento por parte do eleitorado e já em 2024 o Partido Socialista perdeu as eleições neste círculo. O número de votantes do CH aumentou no escrutínio de 2024 em França a 500%. Os analistas políticos estavam só virados para o aumento do CH na Suíssa, onde o número de eleitores duplicou. O CH conseguiu nessa altura 32,60 % na Suiça e na Europa 18,31 %. Ficou em primeiro lugar na Europa com 42.972 eleitores. O PS conseguiu 38.061 eleitores (16,22 %).

O declínio do Partido Socialista começou entre 2022 e 2024. O fenómeno da extrema direita que se notou já em 2022 na Suíssa ultrapassou fronteiras. Um dos temas na Suíssa que fundamenta o descontentamento foi a injustiça na área da tributação. A política portuguesa para as Comunidades não soube nos ultimos anos dar uma resposta adequada a diversos temas: castigo do IRS para quem ao fim de uma vida de trabalho regressa a Portugal, tentativa de excluír portugueses a viverem no estrangeiro do sistema de saúde, falta de harmonização do sistema eleitoral e a rejeição do voto eletrónico remoto por parte do PS. A incapacidade política de resolver a tragédia com a cópia do cartão do cidadão em atos eleitorais e a anulação de quase 30% dos votos de emigrantes.  O eleitorado registou que o PS com a sua maioria absoluta podia, mas nada fez nestas matérias. A Nathalie de Oliveira perdeu a oportunidade de pelo menos tematizar os temas e de dar voz às Comunidades. O eleitorado teria compreendido que havia boa vontade e que algo tinha mudado. Não foi o caso e por isso surgiu o castigo eleitoral em 2024.

O Deputado Paulo Pisco ainda foi eleito, mas nada mudou de uma forma gradual. Deu continuação às suas viagens regulares para a França, mas sem impacto. Na verdade ignorou-se o aviso eleitoral de 2024.

Paulo Pisco não conseguiu convencer, além de ter corrigido algumas posições temáticas. A propina no Ensino de Português foi extinta e o Deputado tomou publicamente posição a favor do voto digital. Mas devido aos zig-zages dos ultimos anos nesta matéria, perdeu a credibilidade política. Se o novo candidato a Secretário Geral do PS continua a apostar no ex-deputado Paulo Pisco é porque ignora os sinais nítidos do eleitorado. Ao fim de tanto anos existe um desgaste político irreparável.

Pedro Nuno Santos e o PS não tinham grande margem de manobra na altura de decidirem os candidatos para o círculo eleitoral da Europa. Se tivessem apostado no Paulo Pisco a derrota ainda seria mais desastrosa. O Chega venceu na Europa com 71.990 votos (28,20 %) e o PS perdeu com 34.574 votos (13,54 %). Foi uma descida de 3485 eleitores (2,68 %).

O partido socialista em números absolutos não perdeu muitos eleitores, mas não conseguiu conquistar novo eleitorado. Com uma maior participação nas eleições o PS não soube tirar divindendo. Estagnou. É preciso saír da bolha e ír ao encontro dos interesses das bases. É preciso apostar em novos atores políticos e novas ideias. A credibilidade e a eficiência política terão que ser reabilitados. A perda de confiança é grande. Viajar menos e estar mais próximo das pessoas, saber ouvir e levar a sério.

A participação dos Portugueses fora de Portugal aumenta de ano para ano, em 2025 tivemos uma subida de cerca 6%. O número de votantes atingiu o recorde de 352 503 votos. A falta de reprsentatividade é gritante. Em Portugal cada 26 mil eleitores elege um Deputado, no estrangeiro foram necessários 88 mil votantes. Esta disparidade é injusta e discrimina. Se os partidos tradicionais continuarem a ter medo do voto dos emigrantes, nada irá mudar.

A subida do CH só terminará depois dos partidos tradicionais acordarem de uma letargia política de ignorar os emigrantes. O potencial que pode resultar da rede global que Portugal tem com as Comunidades nunca foi verdadeiramente reconhecido. A classe política continua a só olhar para o umbigo nacional. Este défice está a ser explorado pelo André Ventura.  

 Nelson Rodrigues, sociólogo e perito de migração e integração, ex-conselheiro, Alemanha


 


luso.eu | Jornal de Notícias das Comunidades Portuguesas também está no WhatsApp. Clique aqui para subscrever o canal e manter-se informado.


 

Boletim informativo

FOTO DO MÊS

We use cookies
Usamos cookies no nosso site. Alguns deles são essenciais para o funcionamento do site, enquanto outros nos ajudam a melhorar a experiência do utilizador (cookies de rastreamento). Você pode decidir se permite os cookies ou não. Tenha em atenção que, se os rejeitar, poderá não conseguir utilizar todas as funcionalidades do site.