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Com uma vida tecida entre Portugal, França e Inglaterra, Gracinda Ramalho Rocha é um exemplo vivo de como as experiências culturais e geográficas podem moldar uma alma literária. Aposentada precocemente, mas com uma longa carreira como professora de línguas estrangeiras, encontrou na escrita a liberdade para exprimir a sua visão singular do mundo.

Desde as influências da ficção científica na adolescência até à exploração de temas sociais prementes nos seus romances, Gracinda convida-nos a uma viagem pelas complexidades das relações humanas. O seu mais recente trabalho, "Sedução", mergulha nas nuances do amor e da sua ausência, abordando a violência doméstica com uma sensibilidade que se foca nos pequenos pormenores que desvendam grandes dramas. Nesta entrevista, vamos revelar os bastidores da sua inspiração, aprofundar as suas escolhas narrativas e espreitar os futuros projetos que prometem continuar a surpreender os seus leitores.

Sobre o Percurso e Inspiração

Gracinda, a sua vida é um mosaico de experiências, desde Gondomar a França e Inglaterra, e a sua carreira como professora de línguas estrangeiras. De que forma estas diferentes culturas e vivências moldaram a sua sensibilidade literária e a sua visão do mundo?

- A minha sensibilidade literária não é muito diferente das mulheres da minha geração, nasci nos anos sessenta e os meus pais conheceram o final da ditadura em Portugal, cresci num país que saía dum choque petrolífero, a famosa crise dos anos setenta e tornei-me adulta em dois países diferentes, França e Inglaterra. Aí, sim, considero que a minha visão do mundo era mais europeia do que propriamente conservadora, mais aberta aos diferentes povos, mais rica em contactos com várias culturas.

Apesar da vontade antiga de escrever, foi a aposentação precoce que lhe deu a disponibilidade necessária. Como descreveria este "despertar" para a escrita? Houve algum momento ou acontecimento específico que a impulsionou a finalmente concretizar esse desejo?

- Sim, o momento em que experimentei escrever uma pequena peça de teatro juvenil, um texto do qual não gosto hoje, porque me dediquei à escrita de pequenos romances ou grandes crónicas, como lhes quiserem chamar. Tento descrever a sociedade atual, os seus males, por vezes, apresentando possíveis respostas.

Mencionou que a ideia de escrever surgiu na adolescência francesa, pela leitura de romances de ficção científica. Existe alguma influência desse género na sua escrita atual, ou a sua paixão desviou-se para outros caminhos literários?

- Apenas um conto que ainda não publiquei é de ficção científica. Passa-se entre o século 18 e o século 20. De resto, tento ser o mais próximo da realidade possível. Por enquanto, todas as minhas narrativas passam-se no século 21, com alguns flashbacks para o século passado.

Sobre a Obra "Sedução"

O seu segundo livro, "Sedução", aborda "o que nos move, o amor, ou a falta dele". Poderia aprofundar um pouco mais sobre como estes dois lados da mesma moeda (amor e a sua ausência) se manifestam nas suas narrativas e qual a importância deste tema central para si?

- Movemo-nos muitas vezes por falta de amor, à procura de uma vida melhor, de um amor mais verdadeiro. A mentira no amor é um tema no meu último romance, o que ainda estou a escrever…

A narrativa "Sedução" foca-se na violência doméstica, um tema tão delicado e urgente. Optou por não dramatizar, mas sim por explorar os "pequenos pormenores que levam ao drama". O que a levou a escolher esta abordagem e qual a sua maior preocupação ao retratar um flagelo social tão complexo?

- O que me levou a retratar tão complexo tema foram os pequenos pormenores que levam ao drama. Cada caso é um caso. É uma reflexão sobre um desses casos.

Na mesma narrativa, as questões sobre como uma filha menor encara a situação e as consequências no lar são levantadas. Como aprofundou a perspetiva infantil neste contexto tão difícil? Que mensagem espera transmitir ao dar voz a essa vivência?

- Desde «sempre» lidei com crianças. Ouvia as histórias da minha mãe que trabalhava num «Foyer de l’enfance», um lar para crianças vítimas por vezes de maus-tratos, outras vezes por assistiram a dramas familiares. Eu própria trabalhei nesse lar nas férias de verão. E também fui docente durante vinte anos, lidei com crianças e adolescentes. Não tenho nenhuma mensagem em particular, apenas retrato Branca, uma jovem a crescer, e a sua avó Camila.

"Queridos", a segunda narrativa, apresenta histórias de amor cruzadas com um foco no lado positivo. Qual foi o maior desafio em tecer estas histórias e como conseguiu infundir otimismo num enredo que, à partida, poderia ter reviravoltas inesperadas?

- «Queridos», afinal, inserido neste livro, serve como contraponto por ser quase sempre otimista. Obrigada por dizer que eu consegui infundir otimismo. Espero ter conseguido, num casal que se separa, por já serem maduros, e num jovem casal que se conhece pela primeira vez. Conclui-se que afinal o amor não tem idade. 

A "pirueta que vai servir de desfecho" e as "consequências nos afetos e sentimentos" das personagens de "Queridos" prometem surpreender o leitor. Sem revelar demasiado, pode partilhar o que espera que os leitores sintam e reflitam ao chegarem ao final desta história?

- Gostava que os leitores sentissem os desafios desses jovens e menos jovens, que os vivessem também um dia, porque não? Tudo é possível!

Perspetivas Futuras

Considerando a profundidade e a relevância social dos temas que aborda, já tem em mente futuros projetos literários? Se sim, poderá dar-nos uma pequena antevisão do que podemos esperar?

- O próximo livro terá como título, Vista de esguelha para o mar. Mais uma vez o tema do amor. Passa-se num prédio à beira-mar, em Matosinhos, num daqueles condomínios em que só se vê o mar da varanda, lugar de onde também se espiam os vizinhos…

Gracinda, a sua escrita é um convite à reflexão sobre a complexidade das relações humanas, sempre com um olhar atento aos "pequenos pormenores" que, no fim, contam as grandes histórias. A sua experiência de vida, tão rica em vivências culturais, é, sem dúvida, um pilar fundamental para a sensibilidade e profundidade que observamos nas suas narrativas.

Agradecemos imenso a sua disponibilidade e a forma aberta como partilhou as suas inspirações e os meandros da sua escrita. Ficamos, certamente, a aguardar com grande expectativa por "Vista de Esguelha para o Mar", o seu próximo romance, que promete mais uma vez mergulhar nas múltiplas facetas do amor.

Obrigado, Gracinda!


 



 

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