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(Tempo de leitura: 5 - 9 minutos)


É com grande prazer que damos início a esta conversa com Cláudia Beatriz Pereira, também conhecida pelo seu nome artístico Beatriz Miguel. Apaixonada pelas letras, convida-nos a explorar o seu universo criativo, marcado por histórias, poemas e contos infantis que surgiram como uma necessidade de expressão e de valorização cultural.

Desde o seu início na escrita, em 2019, a autora tem vindo a conquistar leitores e espectadores, especialmente com o seu livro e peça teatral Palhinhas, a história de um espantalho, que une consciência ambiental e arte dramática, de forma envolvente e inspiradora. Nesta entrevista vamos descobrir mais sobre a sua trajetória, paixão pela escrita, as suas experiências em tertúlias poéticas e os sonhos que a motivam a levar as suas obras além-fronteiras, sempre com o objetivo de sensibilizar e encantar públicos de todas as idades. Seja bem-vinda, Cláudia, e obrigado por partilhar connosco um pouco do seu universo literário.

«Obrigada pelo convite!»

É um prazer tê-la aqui para falarmos sobre a sua jornada literária e, em particular, sobre o seu livro Palhinhas, a história de um espantalho.

Sobre a Autora

No seu perfil do Facebook, menciona: "Adoro letras, não gosto muito de números. Até já perdi a conta às...". Poderia completar essa frase?

Até já perdi a conta às… histórias, contos infantis e poemas que, entretanto, fui   escrevendo e guardando. 

Pelos vistos, é uma entusiasta de tertúlias animadas, repletas de declamação, música e partilha de experiências. Confirma? O que mais nos pode contar sobre o seu envolvimento nestes eventos?

Certo. Aprecio essas sessões em que a poesia partilha o palco com outras formas de arte, em particular a música, mas poderá ser a dança, o teatro, a fotografia, a pintura, a escultura. Esse cruzamento de outras linguagens artísticas com a declamação de poesia torna os eventos mais apelativos, menos monótonos. É uma forma de cativar novos públicos, que muitas vezes se reveem noutras formas de arte, que não propriamente ou exclusivamente a escrita literária.

Nas tertúlias, descreve um ambiente descontraído onde a palavra veste veludo, embalada por diferentes sonoridades e pela harpa ao vivo. Acredita que é importante apelar à imaginação e à criatividade do público nestes momentos?

Em primeiro lugar são os dinamizadores das tertúlias que têm de usar estratégias criativas e inovadoras, de forma a captar novos leitores e participantes para esses encontros. Depois deverão envolver o público nas dinâmicas criadas, recorrendo à interatividade com os participantes, para que esses momentos resultem em experiências relevantes, marcadas pela imaginação e criatividade. Ao público pede-se que assuma um papel menos passivo para tornar esse espaço de partilha mais significativo e envolvente. 

Recentemente dinamizei uma tertúlia de poesia na Florbela Pâtisserie, no Torel Palace Porto, onde experimentei uma dinâmica que integrava sons de pássaros, o som das ondas do mar e da chuva, para simular a ambiência descrita nos poemas. Esses efeitos sonoros eram produzidos pelos participantes através de pequenos instrumentos criados com desperdícios reutilizados. O acompanhamento da declamação pela harpa também ajudou à criação dessa atmosfera mais relaxante e descontraída. Será uma dinâmica a repetir em futuros eventos, pois consigo aliar a vertente poética à vertente de intervenção cívica, a favor da sustentabilidade e da proteção do meio ambiente.

Quando é que começou a escrever?

Comecei a escrever por necessidade de ocupar a mente e passar o tempo. Tudo começou em agosto de 2019, altura em que fiquei mais resguardada em casa devido a um problema grave de saúde. Então, impossibilitada de praticar um dos meus passatempos preferidos, a frequência de aulas de danças afro-latinas, resolvi inscrever-me em ações de formação de escrita criativa. Durante as sessões fui-me apercebendo que tinha facilidade em criar histórias, contos e poemas. Fui desenvolvendo esse gosto, escrevendo compulsivamente, com uma frequência quase diária, durante o ano de 2020 até meados de 2021. Fui mostrando os textos produzidos a amigos, familiares e a algumas crianças para avaliar a adesão ao meu estilo de escrita. O retorno foi muito positivo. 

Fui sempre encorajada a publicar, sobretudo por uma grande amiga, Anabela Silva, que infelizmente nos deixou recentemente, sempre que fazia a revisão dos meus contos infantis.  

Escrever é para si uma necessidade ou uma vontade?

A escrita permite-me alcançar o que para mim constitui a satisfação suprema - a da criação. Sempre tive essa propensão para criar e personalizar, sobretudo através da produção de objetos decorativos recorrendo à reutilização criativa ou “upcycling”. A escrita literária foi mais um veículo para canalizar essa minha necessidade de produzir algo novo e único. 

Por outro lado, surgiu também da vontade de me valorizar culturalmente e de evidenciar o meu amor-próprio. Queria provar a mim mesma que era capaz de me superar e evoluir. A escrita coaduna-se com a minha busca incessante de perfeição, de burilar as frases e o verso. Tal como referia o pintor modernista flaviense Nadir Afonso: “Um quadro” (no meu caso um poema ou um conto infantil) “só está acabado quando cessa de me oprimir“. Na produção literária melhorar o que se escreve e a atenção ao detalhe, que me caracteriza, é uma mais-valia e nunca um entrave.

Acredita que tudo tem o seu contrário?

Somos todos feitos de contradições e ambivalências. Dependendo da fase da vida, das circunstâncias e momentos, os antípodas podem conviver no mesmo indivíduo, e é isso que o torna mais humano, singular e autêntico.

Sobre o Palhinhas, a história de um espantalho e Outras Obras

Palhinhas, a história de um espantalho não se limita a Portugal, tendo chegado até ao Festival Titirivedra, na Galiza, com a sua aventura pelo universo marinho. Como descreveria esta experiência de levar o Palhinhas além-fronteiras?

É uma satisfação enorme constatar que a mensagem em prol do ambiente veiculada pela história do Palhinhas é universal.  Verificar que a possibilidade de redução do impacto da poluição por micro plásticos nos oceanos, através da reutilização criativa, pode ser compreendida e posta em prática por outros povos e outras nações, é muito gratificante. 

A que público se destina o livro Palhinhas? 

Destina-se a um público infantil, diria entre os 4 e os 11 anos. 

Para além do Palhinhas, que outros livros já escreveu? 

Em julho de 2024, foi editado o meu primeiro livro de poesia Tudo e o Seu Contrário, pela Oficina da Escrita. Participei ainda em algumas coletâneas de poesia. Destaco a última: XI Coletânea Internacional - Por Um Mundo Melhor, onde podem ler 5 poemas inéditos da minha autoria.

De que forma está ligada ao teatro infantil, especialmente tendo em conta a vertente de consciência ambiental que o Palhinhas aborda? 

À medida que escrevia o conto infantil “O Espantalho Palhinhas”, imaginava-o numa versão teatralizada, passível de ser representada em palco; idealizava cenários e adereços. Entretanto, em junho de 2021, no Auditório de Gondomar, durante o festival Ei Marionetas, assisti à peça de teatro "Plastikus". O cenário, os adereços e a temática logo me transportaram para o meu "Espantalho Palhinhas". No dia seguinte, contactei a companhia de teatro, denominada Krisálida, e apresentei uma proposta para adaptarem o meu conto à linguagem teatral e encenarem a peça para ser apresentada ao público. A proposta foi aceite e a peça de teatro de marionetas estreou em 5 de dezembro de 2022, com o financiamento da DGARTES, no Festival Maluga. O livro foi editado posteriormente, em maio de 2024.

Os seus livros parecem estar a ir longe, como a celebração do Dia da Criança com o Palhinhas no Mosteiro de Tibães. Até onde sonha que os seus livros possam chegar?

Desde a estreia em dezembro de 2022, a peça, que ainda se mantém em circulação, já esteve em vários palcos de norte a sul do país, contando com cerca de quarenta apresentações ao público. No dia 15 de julho galgou fronteiras e foi até Pontevedra, na Galiza. Gostava que os serviços educativos dos museus marítimos portugueses e outras instituições ligadas à proteção da biodiversidade marinha incluíssem, no seu plano anual de atividades, um kit pedagógico formado pela representação da peça, pelo livro e por uma oficina de reutilização criativa para famílias. Essa seria a forma mais rápida e eficaz de sensibilizar o público, sobretudo os mais novos, para a necessidade de se optar por uma economia circular e adotar hábitos mais sustentáveis. 

Sobre o Processo Criativo

Para quem está a pensar começar a escrever, o que considera essencial para dar o primeiro passo?

Ler autores de referência e diferentes géneros literários. Entretanto munir-se de um bloco de apontamentos e apontar as ideias, as impressões, as histórias com que se depara no quotidiano. Eventualmente frequentar sessões de escrita criativa, para desbloquear a inspiração e a criatividade.

Agradeço a sua disponibilidade e ficamos ansiosos por descobrir mais sobre o seu universo literário!

Obrigada pela atenção que me foi dispensada e pela oportunidade para dar a conhecer a minha produção literária! 

Para encerrar, gostaria de agradecer profundamente à autora Cláudia Beatriz Pereira (Beatriz Miguel), por ter partilhado connosco um pouco do seu percurso, das suas inspirações e dos sonhos que a impulsionam. A sua paixão pela escrita, pelo teatro e pela sensibilização ambiental é contagiante e serve de inspiração para muitos que desejam transformar ideias e valores em histórias que encantam e educam públicos de todas as idades. Que os seus projetos continuem a crescer, a ultrapassar fronteiras e a fazer a diferença na vida das crianças e das suas famílias. Estamos certos de que o seu talento e dedicação irão alcançar ainda mais palcos, páginas e corações, promovendo uma cultura de respeito, criatividade e sustentabilidade. Muito obrigado pela sua disponibilidade e por nos permitir fazer parte do seu universo. Desejamos-lhe muito sucesso nesta jornada literária e artística!

- Muitíssimo obrigada! Estarei sempre ao dispor.

 


 


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