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Évora, 25 nov 2024 (Lusa) – O presidente da Comissão Nacional da UNESCO, embaixador José Moraes Cabral, alertou hoje que “nunca o Património Mundial esteve tão ameaçado” como na atualidade e defendeu a criação de novos mecanismos de salvaguarda e prevenção e respetivo financiamento.

Numa cerimónia em Évora, o embaixador lembrou que a Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural, aprovada em 1972 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), é um instrumento “incontornável” na defesa patrimonial.

Mas, “porventura, nunca o património mundial esteve tão ameaçado como hoje”, alertou.

“A primeira ameaça resulta da descaracterização do bem e da destruição dos seus valores excecionais”, disse o embaixador José Moraes Cabral, ao intervir na cerimónia do 38.º aniversário da classificação pela UNESCO do centro histórico de Évora como Património Mundial.

Na sessão, que contemplou também a entrega da Medalha de Ouro da Cidade ao antigo presidente da Câmara de Évora Abílio Fernandes, o presidente da Comissão Nacional da UNESCO aludiu à “pressão exercida” no património “pela afluência exponencial de visitantes, pela necessidade de redefinir acessos e percursos, pelo vandalismo ou simples incúria, pela progressão urbana ou pura especulação”.

A juntar a isso, acrescentou, existe “o declínio económico, social e humano de muitos centros históricos, acarretando a sua deterioração progressiva”.

Segundo o responsável, “o híper aproveitamento de monumentos e outros sítios classificados de uma forma exclusivamente ditada pelo ganho económico” é um dos problemas que enfrenta a preservação patrimonial.

O embaixador aludiu a “outros desafios que têm surgido e ameaçam a conservação e integridade de sítios muito relevantes”, como as alterações climáticas, erosão dos terrenos, corrosão ligada às chuvas ácidas, aumento da temperatura e subida do nível do mar.

Em torno do Mediterrâneo, exemplificou, “situam-se 150 sítios classificados como Património Mundial, muitos deles em zonas costeiras, dos quais 37 a escassos 10 metros do mar”.

E as estimativas apontam que, no final do século, esses 37 sítios estejam “sujeitos a inundações recorrentes e 42 outros às consequências destruidoras da erosão costeira”.

A pandemia de covid-19, que causou “forte impacto sobre o número de visitantes e as atividades turísticas, educacionais e sociais a que a gestão de património se encontra estritamente ligada”, e as guerras e outros conflitos violentos, “que têm sempre consequências nefastas sobre o património e a sua conservação, destruindo monumentos e paisagens”, foram as outras ameaças a que aludiu.

Para o presidente da Comissão Nacional da UNESCO, “é urgente a criação de novos mecanismos de salvaguarda e de prevenção” e “a aplicação das novas recomendações” adotadas que reforçam a convenção de 1972, que incluem “formas sustentadas de financiamento das operações de proteção, de conservação e de restauro” ou “o reforço do sentido da apropriação por parte da sociedade”.

A atribuição do título de Património Mundial ao centro histórico de Évora foi concretizada no dia 25 de novembro de 1986, durante a gestão do antigo autarca Abílio Fernandes, que foi presidente do município durante 25 anos, entre 1976 e 2001.

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