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Pela primeira vez em Portugal, investigadores da Universidade de Coimbra isolaram estirpes da bactéria Xylella fastidiosa, responsável por prejuízos agrícolas devastadores em várias regiões do mundo.

A descoberta, feita numa das principais zonas fruteiras do país, revela a presença da mesma estirpe que causou surtos graves na Califórnia, alertando para uma séria ameaça a culturas vegetais nacionais.

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra foi pioneira ao conseguiu isolar várias estirpes da letal bactéria Xylella fastidiosa, um ser microscópico responsável pela devastação de culturas agrícolas em países como os Estados Unidos da América (EUA).

Esta bactéria provoca a doença de Pierce - uma infeção vegetal mortal capaz de infetar mais de 600 espécies, incluindo árvores de fruto como videiras, oliveiras e amendoeiras.  Xylella fastidiosa já provoca prejuízos económicos na União Europeia (UE) estimados em mais de 5,5 mil milhões de euros por ano, tendo sido decretada pela UE como praga de quarentena prioritária. Portugal tem como principais culturas agrícolas a vinha e o olival, pilares essenciais da economia rural e da identidade agroalimentar do país, sendo que, a infeção desta bactéria em larga escala seria devastadora.

Este estudo científico, liderado pela investigadora Joana Costa (coordenadora do projeto XylOut e investigadora do Centro de Ecologia Funcional e do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (FCTUC)), desenvolveu-se no FITOLAB – Laboratório de Fitopatologia do Instituto Pedro Nunes (IPN) em colaboração com António Portugal. Este é o primeiro laboratório oficial e acreditado em Portugal para a deteção de Xylella fastidiosa, sendo reconhecido pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. Esta investigação científica foi ainda realizada no âmbito do doutoramento de Eva Garcia (Programa Doutoral em Biociências da Universidade de Coimbra), em colaboração com o Centro de Citricultura do Instituto Agronômico de Campinas (Brasil) e a Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA).

O artigo científico foi publicado na revista Phytopathology - “Isolation, Phylogenetic Inferences, and Early Diversification of Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa in Cova da Beira Region, Portugal” e pode ser consultado aqui: 👈

Os investigadores concluíram que, em Portugal, está presente a mesma estirpe, do tipo genético ST1, responsável por graves surtos nos EUA, nomeadamente na Califórnia. Em território nacional, a bactéria foi detetada numa das principais zonas fruteiras do país, em Cova da Beira, em ameixoeiras, damasqueiros e espécies silvestres. Na tentativa de descobrir o atual reservatório da bactéria em Portugal, os investigadores alertam que, como as plantas infetadas incluem espécies tanto de cultivo, como silvestre, é importante investigar a vegetação espontânea como possível reservatório.

Na UE, a primeira deteção da bactéria remonta a 2013, onde foi encontrada em Itália - destruiu milhares de oliveiras e provocou perdas económicas severas, tornando-se um dos surtos mais mediáticos da Europa e obrigando à aplicação de medidas rigorosas de contenção e erradicação. Em Portugal, Xylella fastidiosa encontra-se atualmente identificada em quase duas dezenas de zonas demarcadas, com maior prevalência nas regiões Norte e Centro.

A investigadora refere que, apesar de os resultados genómicos sugerirem uma única introdução da bactéria em Portugal com origem na Califórnia, a investigação prossegue no sentido de desvendar o 'hiato temporal' (entre 3 e 23 anos) na história da estirpe em território nacional, pois há elementos, como a data precisa de introdução e dispersão inicial, ainda por determinar. A equipa já está a trabalhar numa nova campanha de amostragens, alargando as áreas de estudo e focando-se em mais zonas delimitadas.

Com um projeto de investigação desta envergadura, o FITOLAB apresenta-se como exemplo de uma ligação colaborativa e estratégica entre a FCTUC e o IPN, que permitiu ultrapassar barreiras legais e técnicas associadas ao estudo desta bactéria de quarentena, e garantir que os frutos da investigação cheguem à sua aplicação concreta, como no setor agrícola, promovendo soluções aplicáveis em contexto real.

Este avanço científico, liderado por investigadores da Universidade de Coimbra, reforça o papel central da investigação nacional e da colaboração internacional na proteção da agricultura portuguesa. Perante a ameaça crescente de Xylella fastidiosa, o novo conhecimento torna-se uma arma chave na proteção da agricultura e economia do país.


 



 

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