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Enquanto a União Europeia está ocupada com as dimensões no retalho do “chouriço de Vinhais”, Xi Jinping organizou o mais persuasivo manifesto contra o mundo atlântico desde que os tanques soviéticos entraram em Praga.

A imagem é cristalina: Xi, Putin e Kim, lado a lado na tribuna de honra, a assistir ao desfile de mísseis intercontinentais como quem assiste a um espetáculo de folclore. Não é folclore. É uma declaração de guerra civilizacional. E nós, os herdeiros de Churchill, Roosevelt e De Gaulle, hesitamos em definir uma resposta coerente, continuamos a acreditar que a paz se mantém com boa vontade e conferências de afinidade ou flotilhas de simpatia pelo mediterrâneo.

Esta convenção do "Eixo da Subversão" é um programa que metodicamente planifica o fim da ordem liberal que custou duas guerras mundiais e 80 anos a construir.

O que desfilou em Tiananmen não foram só armas e militares alinhados, foram argumentos. Mísseis hipersónicos capazes de neutralizar qualquer esquadra americana no Pacífico, sistemas antissatélite que podem deixar o ocidente cego em questão de minutos, veículos de combate anfíbios, “drones” de ataque de alta precisão. Na verdade, é uma "tríade nuclear" que coloca "o mundo inteiro sob alcance".

A mensagem desta “Santíssima Trindade do Autoritarismo” é de uma simplicidade franciscana: temos o poder, somos aliados, temos um programa. Quem é que se atreve a desafiar-nos?

A Europa tonou-se um "anão político e militar" e o infeliz destino dos anões, na geopolítica e nos contos de fadas, é serem esmagados pelos gigantes. Somos um continente velho de 28 anões que não decidem ser gigantes enquanto os gigantes do autoritarismo reorganizam o mundo à nossa volta.

A China projeta poder militar, económico e tecnológico.  O líder chinês, vestido como o camarada Mao, fala de paz com a mesma frieza com que Molotov falou do pacto de não-agressão em 1939. A “paz chinesa” resume-se a isto: submetam-se e não serão atacados.

A nossa resposta não pode ser mais fórmulas solenes sobre “valores europeus”. Como se os valores se defendessem com retórica nesta deriva da ordem mundial.

Para a Europa e os Estados Unidos, esta demonstração não pode ser tratada como mero espetáculo diplomático. A ascensão de um bloco rival, unido pela rejeição dos valores liberais, impõe uma reflexão urgente sobre as nossas políticas de defesa, coesão interna e determinação para manter uma ordem mundial baseada em regras. Esta inércia ocidental só beneficia quem busca corroer a estabilidade global.

Temos de acordar de vez. A parada em Pequim não foi dirigida apenas a Washington, Bruxelas ou Londres. Foi um aviso global. É essencial haver uma reação à altura. Isso exige investimento real em defesa, uma política externa europeia livre das hesitações dos seus líderes e a consciência de que enfrentamos uma luta existencial entre dois modelos de civilização.

Deixemo-nos de ilusões. Não há “diálogo construtivo” com quem pretende destruir a ordem mundial. Há contenção, dissuasão e preparação. Tudo o resto é conversa.

Ou o Ocidente se organiza para defender o que construiu, ou assiste, impotente, à sua decomposição. Fingir que nada se passa já não é possível. Pequim tratou de nos avisar com a delicadeza de quem desfila mísseis nucleares numa manhã de quarta-feira.

É tempo de acabar com a sonolência ocidental. Já não há espaço, nem tempo para desculpas.


 



 

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