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Inevitavelmente, a vida é uma arte.

E nesta tarde, especialmente agradável, na companhia de uma amiga, pude desfrutar de mais um evento cultural que enriquece a cidade de Lisboa.

Num concerto de música clássica, atrevo-me a afirmar, magistralmente bem concebido, a Banda da Armada transportou-nos para os palcos originais onde estas peças de Puccini, Ravel e de outros compositores se estrearam, culminando com a fixação da sua notoriedade através destes trechos tão magníficos e únicos.

Elevam-nos para outras dimensões das sensações humanas, fazendo-nos acreditar que somos seres tão pequenos perante a magnitude do homem, na sua envolvência com uma criação que transcende o mais comum dos mortais.

Nem sempre se atinge um patamar de sensibilidade tão grande, nem sempre se consegue absorver a sua riqueza sonora. Mas, a música clássica é isso, o transpor de barreiras intransponíveis e o engrandecimento social e cultural do homem.

Não basta balançar a cabeça, trautear os dedos, embalar o corpo, temos que sentir o mais profundamente possível a história que os seus compositores pretendiam transmitir quando as suas criações transcendiam a sua própria existência.

A sensação de enlevamento após estes momentos, ultrapassa qualquer outra sensação.

E neste embalar da vida que este tipo de arte nos oferece, outra forma de apreciar a vida, são os momentos mais simples que procuramos viver.

Recordo-me de uma manhã, na Baixa de Lisboa, em pleno Verão, num dia de sol e de vento fresco, em que tive que ir tratar de uns assuntos e vejam bem onde fui parar, ao Museu da Cerveja, um recanto gastronómico e um elogio à cerveja produzida em Portugal.

Dias, não são dias, e como adoro tirar estes momentos para mim e observar a vida à minha volta a desenrolar-se num movimento sincronizado, parei aqui, sentei-me na esplanada praticamente vazia no iniciar matinal deste dia, e abro os cordões à bolsa para conseguir usufruir do que me apraz gastronomicamente.

Hoje em dia é o que quero, é o que me dá gosto e tranquilidade. Pode ser aqui como noutro lugar, não importa, mas neste caso desde que aprecie e sinta o ambiente das pessoas à minha volta, a conversar, ou a tirarem fotografias para mais tarde recordar, ou a caminharem em direção ao trabalho, ou sentadas próximas de mim a comerem um simples bacalhau com queijo da Serra e a beberem o tradicional café...

Nesta observação atenta, neste escutar de ruídos que se confundem entre vozes, transportes a passarem, pessoas a calcorrear as pedras da calçada portuguesa e outros que mal se distinguem ou identificam nesta manhã, estes são pequenos prazeres que nos permitimos alcançar, quando desejamos, quando podemos, quando decidimos à última da hora.

E o mundo gira, a vida flui.

E a memória transportou-me para outro dia, uma noite organizada para que uma recente amiga porto-riquenha absorvesse um pouco da cultura portuguesa, através duma encenação excelentemente bem produzida por uma amiga brasileira, entre a poesia e a música, entre a interpretação cantada e falada de poemas de Fernando Pessoa e sons musicais que faziam engrandecer a nossa riqueza literária e afinal, os laços entre países com grandiosidade histórica.

Acontecimento este ocorrido num espaço de uma antiga casa de espetáculos lisboeta, a Voz de Operário.

Com a sonoridade bem sintonizada, o entusiasmo que aquele espetáculo nos proporcionou, o convite fez-se e a poesia passeou por alguns dos presentes e entre eles, a voz de uma declamadora exímia no seu país que nos encantou com a sua voz timbrada, com palavras ondulantes de poesia espanhola, a envolvência foi criada.

E, aqui se puderam viver horas com um profundo cunho artístico e cultural.

E viver momentos ocasionais entre um grupo de amigas de longa data que se juntam para um almoço, um lanche ou jantar algures na cidade? A partilha da sua visão da vida, dos seus dias, das circunstâncias passadas no seu local de trabalho, na sua casa, com as pessoas que amam, de quem gostam ou apreciam, são caraterísticas inerentes a um convívio, no respeito mútuo. Semblantes tristes, preocupados, aborrecidos, eufóricos, efusivos, divertidos, fazem parte das sensações vividas entre elas. Renovam a sua amizade e enriquecem-na com a sua maturidade. 

Viver em comunhão, na troca de interesses comuns ou até de ideias diferentes faz parte de um ritual que o ser humano precisa para se identificar e sentir que sabe viver a vida. 

E, nesta arte de viver, que se inicia com o nascimento de cada ser, em que por cada um há uma história para contar. Como inevitavelmente poderemos colocar a questão: qual o significado do meu nascimento?, em que a resposta pode ou não existir.

Por alguma razão, simplesmente somos gerados. Por amor, por acaso, por força das circunstâncias, etc. Surgimos, desenvolvemos, crescemos e resplandecemos para o mundo. E o caminho começa. Tantas voltas em que a vida pula e avança e são tantos os movimentos que, as fases da existência humana parecem intermináveis.

Sentimos os momentos em que é tudo tão bonito, surpreendente, novo, em que fluímos ao vento, como se fôssemos intocáveis, invencíveis, quando sabemos o que desejamos e nos afirmamos, quando começamo-nos a envolver num cansaço e numa tranquilidade ansiada até que...

No meu caso, nasci tarde. E alegrei indefinidamente o coração triste e solitário de alguém. Fui amada, protegida e severamente educada. Mas... Continuo à procura do infinito num tempo que não é o meu. Na solidão dos dias das estações, o caminho é percorrido pelas folhas delineadas pelo vento. Uma brisa fria, intensamente envolvente num arrepio. Sorriso ligeiro num olhar penetrante, desperta no brilho do sol. 

Escrevo a minha história, seja em momentos de amor na eterna contemplação duma amizade inesquecível, seja numa paixão que jamais será esquecida, seja no usufruir de uma solidão prazerosa e tranquila. Contudo, continuo à procura daquela tatuagem no horizonte de uma felicidade fugaz, nos instantes da vida. 

Em tudo isto, a arte de viver toma um significado e uma importância reveladora nas pequenas coisas. Porque a vida não é perfeita, apesar do ser humano querer atingir aquele toque único. E sempre nessa tentativa, vai transformando a mesma numa arte, seja qual for a atividade em que se envolva e em que queira transmitir essa perfeição imperfeita.

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