Uma Estratégia de Manipulação e Exclusão. Na complexidade das relações sociais e políticas que marcam a nossa sociedade contemporânea, a expressão "dividir para reinar" emerge como um comentário crítico relevante sobre as dinâmicas de poder que frequentemente se observam em várias esferas da vida.
Esta estratégia, que data da Antiguidade e recebe atribuições históricas a líderes como Júlio César, apresenta-se como uma tática de controlo e manipulação que perpetua desigualdades e fomenta a exclusão.
Quando a totalidade não está ao alcance, a fraqueza da ambição leva à fragmentação. A premissa é clara: ao dividir grupos coesos e fortes em partes mais manejáveis, o controlador/manipulador/ditador garante um sucesso momentâneo ao neutralizar qualquer resistência coletiva. É um reflexo da incapacidade de lidar com a força do todo, que, unida, pode desafiar e desestabilizar estruturas de poder opressivas. Este ato de segregar, de isolar indivíduos ou grupos, transforma a diversidade em armas de dominação, promovendo um cenário de rivalidade e desconfiança mútua.
A segregação não se limita apenas às arenas políticas; estende-se à social e económica. Em contextos laborais, por exemplo, frequentemente vemos a promoção de rivalidades entre departamentos ou equipas, onde a competição é estimulada a fim de manter a hierarquia. Os efeitos são devastadores: a colaboração e o espírito de equipe dão lugar à desunião e à fragmentação. Este ambiente propício ao desencorajamento favorece aqueles que no topo colhem os frutos da divisão alheia, assegurando-se de que as vozes dissonantes não tenham espaço para prosperar.
A estratégia de “dividir para reinar” opera à custa da dignidade humana, acentuando diferenças de classe, raça, género e ideologia. Cria-se, assim, uma atmosfera de medo e insegurança, onde a única certeza é a promoção de um "nós contra eles". Neste cenário, os que se vêem como excluídos tornam-se vulneráveis, e esta vulnerabilidade é alimentada por uma retórica que busca deslegitimar suas preocupações e necessidades.
É urgente refletir sobre as consequências desta prática: um mundo em que a fragmentação é norma não apenas fragiliza os indivíduos, mas também enfraquece a sociedade como um todo. O verdadeiro progresso, a verdadeira força, reside na solidariedade, no reconhecimento das nossas interdependências e nas nossas capacidades de agir coletivamente em prol de um bem comum. Precisamos, portanto, resistir a esta lógica de divisão e trabalhar activamente para a construção de pontes, em vez de barreiras.
A luta contra a divisão deve ser uma prioridade de todos – cidadãos, líderes e organizações – comprometidos com uma sociedade mais justa e equitativa. Devemos abraçar a diversidade, permitindo que ela seja a base de uma coesão sólida. Afinal, a verdadeira força não se encontra na fragmentação, mas na capacidade coletiva de nos unirmos por um objetivo comum, desafiando assim aqueles que tentam reinar pela divisão. Em última análise, a resistência à estratégia de dividir para reinar é um passo crucial na luta pela dignidade, pela igualdade e pela justiça social.
Para sustentar os argumentos apresentados no texto sobre a estratégia de «dividir para reinar» deixo aqui algumas fontes acadêmicas, livros, artigos e autores que discorrem sobre temas relacionados com o controlo social, manipulação política, desigualdades e solidariedade. Aqui estão algumas sugestões de fontes que podem ser utilizadas:
1. Foucault, Michel - "Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão" (1975). Foucault explora o controlo social e as dinâmicas de poder, oferecendo insights sobre como as estruturas do poder se mantêm no meio da manipulação e da fragmentação.
2. Machiavelli, Niccolò - "O Príncipe" (1532). Esta obra clássica discute a política e a estratégia de controlo, incluindo a ideia de que a fragmentação de grupos pode ser uma ferramenta de governança eficaz.
3. Freire, Paulo - "Pedagogia do Oprimido" (1970). Freire aborda a opressão e a necessidade de resistência coletiva, enfatizando a importância da solidariedade na luta contra a exclusão e a divisão.
4. Bourdieu, Pierre - "A Distinção: Crítica Social do Julgamento" (1979). Bourdieu discute como as diferenças de classe e as estruturas sociais impactam as relações interpessoais e a exclusão.
5. Noam Chomsky - "O que o Governo não quer que você saiba" (2017). Chomsky analisa como as estratégias de divisão são usadas em contextos políticos e sociais para manipular a população.
6. Žižek, Slavoj - "Uma Causa Sui Generis: O Que Fazer com o Estado?" (2017). Žižek discute como o capitalismo e as ideologias promovem a fragmentação social como uma forma de controlo.
7. Tilly, Charles - "Durable Inequality" (1998). Tilly analisa a perpetuação das desigualdades sociais através de diversas formas de segregação e exclusão, crucial para entender a tática de "dividir para reinar".
8. Putnam, Robert D. - "Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community" (2000). Putnam discute a diminuição do capital social e a fragmentação das comunidades, mostrando como isso afeta a ação coletiva.
9. Dahrendorf, Ralf - "Classes e Conflito de Classes na Sociedade Industrial" (1959). Dahrendorf fornece uma análise sobre como as divisões sociais se intensificam e a necessidade de construção de coalizões.
10. Castells, Manuel - "A Sociedade em Rede" (1996). Castells explora a relação entre poder, tecnologia e a fragmentação social numa sociedade interconectada.
Estas obras e autores podem oferecer bases teóricas e empíricas que apoiam a análise da estratégia «dividir para reinar», a sua aplicação histórica e as suas implicações para a sociedade contemporânea.