Cerimónias em Moimenta de Maceira Dão assinalaram os 40 anos do acidente ferroviário de Alcafache, a maior tragédia ferroviária portuguesa, homenageando as vítimas com novos elementos de memória, na presença de autoridades, familiares e sobreviventes.
No passado domingo, 14 de setembro, o Grupo COMAFA – Comissão Organizadora do Acidente Ferroviário de Alcafache – promoveu as cerimónias do 40.º aniversário da tragédia ocorrida a 11 de setembro de 1985, em Moimenta de Maceira Dão, povoação do município de Mangualde.
O acidente, conhecido como o “11 de setembro português”, vitimou cerca de 150 pessoas, em 460 passageiros, na sua maioria emigrantes que regressavam de férias a Portugal, configurando-se como o mais grave desastre ferroviário da história do país. A tragédia ocorreu na via da Beira Alta devido a desobediência a regras de prioridade ferroviária, que provocou numa via única, um desastroso choque frontal entre um comboio regional e um comboio internacional, agravado por um incêndio resultante da inflamação do combustível. Embora os serviços de socorro tenham chegado em poucos minutos, este acidente resultou num elevado número de mortos e feridos. Grande parte dos restos mortais não identificados foram sepultados numa vala comum junto ao local do desastre, aonde também foi erguido um monumento em memória das vítimas e das equipas de salvamento.
Após o acidente, foram implementadas novas regras restritivas quanto ao material a ser utilizado nas locomotivas e desenvolvidos sistemas avançados de segurança, sinalização e controlo de tráfego, tornando praticamente impossível a repetição de uma tragédia semelhante.
As homenagens deram início às 10h e prolongaram-se até perto das 12h30, culminando numa missa campal presidida pelo Bispo de Viseu, D. António Luciano, co-celebrada por párocos locais e enriquecida pelas vozes do coro paroquial.
Criada em 2001 pela Associação dos Emigrantes de Válega, a comissão liderada por José Augusto Sá que perdeu o pai e a irmã naquele acidente, tem promovido anualmente esta evocação, implementando projetos de dignificação do espaço, incluindo um memorial, o mural, o monumento e a emblemática Cruz de Ferro de Alcafache erguida desde 1985.
Nos 40 anos de memória e luto, a localidade expressou o seu profundo respeito pelas vítimas acrescentando novos elementos de homenagem, como a capela dedicada a Nossa Senhora dos Emigrantes, o arranjo da rua de acesso, a colocação de uma lápide toponímica e a instalação de um protótipo da CP.
A solenidade contou com a presença de representantes de 29 associações humanitárias, Cruz Vermelha Portuguesa, Proteção Civil, Regimento de Infantaria de Viseu 14 de Viseu, deputados, autarcas da região, o Secretário de Estado das Comunidades e da Europa e, em destaque, o antigo Presidente da República, General António Ramalho Eanes.
O memorial de Alcafache permanece como símbolo de memória, respeito e união, onde a população prestou um tributo comovente, mantendo viva a memória das vítimas e fortalecendo os laços entre as famílias e a nação.