Durante a visita da comitiva portuguesa ao Brasil, entre os dias 18 e 20 de novembro, no âmbito da participação nas reuniões do G20, uma oportunidade disponibilizada a Portugal, na qualidade de observador, a convite da Presidência brasileira
Agência Incomparáveis conversou, com exclusividade, com Paulo Rangel, ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal, sobre a participação no evento internacional e os resultados atingidos.
O governo português anunciou que vai contribuir com 300 mil dólares anuais para a nova Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, durante a cimeira do G20. No âmbito deste evento internacional, e durante a primeira sessão de trabalho da reunião de chefes de Estado e de Governo do G20, o governo português saudou o presidente Lula por trazer para o centro da discussão “temas absolutamente essenciais como a erradicação da pobreza e da fome”.
O G20 é um dos principais fóruns internacionais sobre cooperação económica e desenvolvimento internacional. Foi estabelecido em 1999 e inclui, desde 2008, uma Cimeira anual, com a participação dos respetivos Chefes de Estado e de Governo. Os membros do G20 são: EUA, China, Alemanha, Rússia, Reino Unido, França, Japão, Itália, Índia, Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Indonésia, México, Turquia e, ainda, a União Europeia e a União Africana e representam as maiores economias, compondo cerca de 85% do PIB mundial, mais de 75% do comércio mundial e cerca de 2/3 da população mundial.
Nesta oportunidade, o ministro estava acompanhado pelo primeiro-ministro português, Luís Montenegro; pelo embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos; pelo deputado luso-brasileiro eleito pelo círculo de Fora da Europa, Flávio Martins, que é também presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP); e por Gabriela de Albergaria, cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro.
À nossa reportagem, Paulo Rangel avaliou a participação portuguesa no certame e considerou “a luta contra a pobreza e contra a fome o resultado mais evidente e mais forte” da reunião que contou com a presença de diversos chefes de Estado e de governo do mundo.
Como avalia a participação de Portugal no G20?
Foi uma oportunidade extraordinária para Portugal ter participado em todas as sessões como convidado, no fundo, para assistir permanentemente a todos os trabalhos preparatórios e a todas as reuniões de ministros, foi realmente extraordinário porque nos deu acesso a um fórum em que estavam nações que representam dois terços da população mundial, que representam 80% do PIB do mundo e, portanto, estamos a falar de uma organização com uma importância crucial. Isto permitiu a Portugal estar presente, debater, propor medidas, contribuir para a relação dos documentos, intervir com ministros em todas as áreas, em várias cidades do Brasil, porque o Brasil desconcentrou e muito bem esta iniciativa e esta presidência e aquilo que eu tenho a dizer é que Portugal está imensamente grato ao Brasil e à presidência brasileira do G20, porque foi uma oportunidade que nunca tínhamos tido e que, eu diria, aproveitamos em pleno.
E como avalia as conclusões do encontro?
A luta contra a pobreza e contra a fome, julgo, foi o resultado mais evidente e mais forte desta presidência e há, de facto, agora um conjunto de iniciativas que vão permitir ajudar os países em desenvolvimento, onde a fome e a miséria continuam a ser problemas muito persistentes e com muita dificuldade de serem superados. Portugal aqui também está com muita atenção para as guerras e os conflitos que estão em curso, que verdadeiramente também nos retiram a oportunidade de lançar estes programas, porque obviamente para se lançar programas de apoio, de ajuda às pessoas que estão na pobreza ou que estão até mesmo na fome ou na iminência da fome, tem que haver segurança para aqueles que vão ajudar e, portanto, com conflitos isso não é possível, isso é grave e um imenso problema. Uma outra dimensão muito relevante é a questão do combate às alterações climáticas e, portanto, também aí Portugal esteve muito presente, primeiramente teve intervenção nos dois momentos e, portanto, tivemos, aliás, algumas reuniões paralelas à margem para fazer projetos de colaboração, por exemplo, na Amazónia, para nos envolvermos mais em programas em que vários países europeus estão empenhados em ajudar os oito países que, no fundo, estão ligados à Amazónia, porque a Amazónia, na verdade, sendo, obviamente, integrando o território destes países, é o pulmão da humanidade e, portanto, toda a humanidade tem de cuidar e ajudar a cuidar, porque o que representa em termos de ambiente, de natureza, evidentemente, tem um impacto global, não é um impacto apenas no continente americano ou no continente sul-americano e, portanto, há aqui uma responsabilidade global de ajudar estes oito países a cuidarem da sua floresta, este é um aspeto também muito importante e eu diria que estes são pontos relevantes. Nestas cimeiras há muitos encontros bilaterais que, embora Portugal seja um país muito bem inserido na comunidade internacional, porque está na União Europeia, tem a Cimeira Ibero-Americana, tem a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa, tem a NATO, está na ONU muito dinâmica, o secretário-geral da ONU é português, o presidente do Conselho Europeu também é um português, portanto, isso significa que estamos muito bem inseridos, mas houve aqui uma oportunidade de falar diretamente com líderes e com países que, normalmente, não estão nos fóruns em que nós estamos ou, pelo menos, não estão com este grau de facilidade de acesso e isso para o nosso país foi muito importante para afirmar, no fundo, aquela que é a vocação universalista portuguesa, que é justamente a de ser um fazedor de pontes, um mediador entre regiões do mundo ou Estados que estão, eu não diria em conflito, mas muitas vezes em tensão e, portanto, nós temos essa capacidade de fazer pontos e aqui o Brasil deu-nos esta grande oportunidade. Queria também saudar o Brasil por outra coisa, por ter convidado a Angola, no fundo, convidou um país de língua portuguesa em África e um país de língua portuguesa na Europa, isto também é uma grande valorização desse ativo comum que temos e, portanto, não sendo eu Ministro de Negócios Estrangeiros da Angola, embora grande amigo do meu homólogo, isto representa uma visão que o Brasil tem, pois decidiu escolher dois países que nunca tinham participado e ambos países de língua portuguesa.
Ígor Lopes