Poucos nomes condensam tanto da história recente de Portugal como o de Francisco Pinto Balsemão. Político, empresário e pioneiro dos media, o fundador do Expresso e da SIC é recordado, sobretudo, como o continuador de Sá Carneiro e como símbolo de uma elite liberal que ajudou a consolidar a democracia.
Mas há um lado da sua ação que permanece pouco lembrado — o Balsemão das comunidades portuguesas e da Europa, o homem que pensou Portugal como uma nação espalhada pelo continente e integrada num destino comum europeu.
Quando chegou a primeiro-ministro, em 1981, Balsemão encontrou um país dividido, em crise económica e social, e uma diáspora que, embora numerosa, vivia ainda à margem das grandes decisões políticas nacionais.
Sem a teatralidade de outros líderes, procurou dar estrutura e dignidade ao relacionamento com as comunidades portuguesas, sobretudo as estabelecidas em França, Luxemburgo, Suíça e Bélgica — os rostos anónimos do Portugal trabalhador e resiliente.
A reorganização consular, o apoio às escolas portuguesas no estrangeiro e o estímulo às associações culturais foram pequenos gestos num tempo de grandes dificuldades, mas reveladores de uma ideia de fundo: os emigrantes não eram “os que partiram”, eram parte integrante do país.
Essa visão política, discreta mas sólida, abriu caminho a uma política de emigração moderna, institucionalizada mais tarde com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas — uma marca indelével da governação social-democrata.
Ao mesmo tempo, Balsemão foi um dos primeiros a compreender que o destino de Portugal passava inevitavelmente pela Europa.
Durante o seu mandato, num contexto difícil e ainda sob tutela do FMI, manteve o rumo traçado por Sá Carneiro: aproximar Portugal da Comunidade Económica Europeia e consolidar a democracia através da integração europeia.
Com o seu estilo ponderado, Balsemão ajudou a credibilizar o país junto dos parceiros europeus, reforçando a ideia de um Portugal moderno, responsável e comprometido com os valores do Estado de direito, da economia social de mercado e da cooperação internacional.
Mesmo após deixar o Governo, continuou a ser um pensador europeu, mais do que um protagonista. No Expresso, deu voz ao debate sobre o papel de Portugal na Europa e alertou, desde cedo, para os perigos de um projeto europeu desligado dos cidadãos.
O seu europeísmo não era técnico, era cultural e civilizacional — via na Europa um espaço de liberdade, pluralismo e cultura política, e não apenas um mercado comum.
Hoje, quando a política parece prisioneira do ruído e da pressa, a figura de Francisco Pinto Balsemão lembra-nos que a moderação também é uma forma de coragem.
O seu legado nas comunidades portuguesas e na Europa é o de um homem que acreditava que Portugal só seria forte se unisse todos os seus filhos — os que vivem dentro e fora das fronteiras — e se fizesse respeitar como parceiro estável e confiável no projeto europeu.
Balsemão não precisou de slogans para ser visionário. Bastou-lhe convicção, decência e uma ideia clara de país.
E talvez seja tempo de lhe reconhecer também esse mérito menos falado: o de ter sido o primeiro a ver Portugal inteiro — dentro e fora, pequeno mas europeu, disperso mas unido.

