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A Casa Branca considera que as divergências públicas com Israel sobre uma resolução do Conselho de Segurança da ONU é uma crise artificial fabricada pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por razões de política interna, indicaram hoje fontes oficiais norte-americanas.

“Menos de seis meses após o ataque de 07 de outubro a Israel pelo Hamas, que levou a um apoio sem precedentes a Israel por parte da administração Biden, a relação entre os Estados Unidos e Israel está a deteriorar-se rapidamente”, indicaram as fontes oficiais da administração norte-americana, que solicitaram anonimato, e citadas hoje pelo portal Axios.

Na análise, o portal de notícias norte-americano fundado em 2016 e lançado no ano seguinte por antigos jornalistas do Politico, é lembrado que Netanyahu cancelou uma visita de altos funcionários governamentais israelitas a Washington, depois de saber que os Estados Unidos se tinham abstido na votação de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que apelava a um cessar-fogo na Faixa de Gaza e à libertação dos reféns detidos pelo Hamas.

No domingo à noite e na segunda-feira de manhã, prossegue o portal, funcionários da Casa Branca (presidência norte-americanas) conversaram com os assessores de Netanyahu sobre a resolução da ONU e disseram-lhes que os Estados Unidos iriam provavelmente abster-se e que a abstenção de Washington não era uma mudança de política, pois a administração Biden não vê a resolução da ONU como vinculativa.

Na segunda-feira, num comunicado, Netanyahu disse que deixou claro que, ao contrário de Washington, vê na decisão uma mudança na política norte-americana e ameaçou também cancelar a viagem de uma delegação israelita à capital federal norte-americana para discutir a operação de Rafah se os Estados Unidos não vetassem a resolução.

“Se o primeiro-ministro Netanyahu tinha um sentimento tão forte, porque é que não telefonou ao Presidente Biden? A posição dos Estados Unidos é clara: lemos a resolução como um apelo a um cessar-fogo e à libertação dos reféns - no mesmo parágrafo. Por essa razão, abstivemo-nos", frisou uma das fontes citada pelo Axios.

A decisão do cancelamento da visita da delegação israelita a Washington, prosseguiu a fonte, deixou a Casa Branca "perplexa" com o que considera ser uma “reação exagerada” de Netanyahu.

O mesmo funcionário disse que a Casa Branca também está “perplexa” com o facto de Netanyahu ter rejeitado a interpretação norte-americana da resolução da ONU e de ter decidido expor as suas diferenças com a administração Biden em público.

"Tudo isso é contraproducente. O primeiro-ministro [israelita] poderia ter escolhido um caminho diferente: alinhar com os Estados Unidos sobre o significado da resolução. Optou por não o fazer, aparentemente por motivos políticos", defendeu a fonte.

Segundo o Axios, duas horas depois de Netanyahu ter anunciado o cancelamento da visita da delegação, o ministro conservador Gideon Saar, do partido New Hope, anunciou a demissão da coligação governamental de emergência, o que “aumenta a pressão” sobre outro ministro Benny Ganz, antigo chefe do executivo israelita.

“Se o centrista Gantz sair, Netanyahu permanecerá com a sua coligação original de direita radical e terá muito menos espaço de manobra a nível internacional”, apontou Barak Ravid, autor do texto de análise do Axios.

O portal Axios cita também outro alto funcionário norte-americano, que disse que Netanyahu estava a usar a votação da ONU como desculpa para não enviar uma delegação de líderes israelitas a Washington para discutir a invasão de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, onde mais de um milhão de palestinianos deslocados das suas casas estão abrigados.

"[Netanyahu] temia que pudéssemos oferecer algo razoável. Prefere lutar connosco, mesmo que isso não seja do interesse de Israel. É também uma forma engraçada de tratar um parceiro que tem dado tanto apoio a Israel”, afirmou o alto funcionário norte-americano.

Segundo o Axios, nas entrelinhas, a Casa Branca está a tentar minimizar o facto de Netanyahu ter cancelado a viagem dos seus aliados mais próximos - o ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e o conselheiro de segurança nacional, Tzachi Hanegbi.

Esperava-se que os dois se encontrassem com o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e outros altos funcionários para discutir alternativas que os Estados Unidos planeavam propor para uma operação israelita em Rafah, junto à fronteira com o Egito.

As autoridades norte-americanas dizem que, em vez disso, estão a concentrar-se noutro alto funcionário israelita que está em Washington esta semana, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que se reuniu segunda-feira com Sullivan e discutiu a operação em Rafah, entre outras questões.

"Tivemos uma discussão construtiva sobre a melhor forma de garantir a derrota duradoura do Hamas em Gaza", publicou Sullivan na rede social X.

Gallant, lembra o portal Axios, é um “falcão da segurança” que apoia uma operação israelita em Rafah, mas é também o principal rival de Netanyahu no seio do partido Likud.

A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já provocou mais de 32 mil mortos, de acordo com o Hamas, que controla o território desde 2007.

 

 

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