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Neste domingo, os relógios atrasam uma hora, marcando o início do horário de inverno em Portugal. Esta simples mudança, tantas vezes vista como uma mera formalidade, provoca um efeito que transcende a trivialidade do dia-a-dia.

Ao fazer os ponteiros recuarem, somos surpreendidos por uma reflexão: até que ponto seguimos o compasso do corpo humano e a verdadeira natureza do mundo que nos rodeia?

Recentemente, vários jornais trouxeram a debate a questão da mudança da hora, não apenas como uma convenção temporária, mas como um potencial atentado ao nosso ritmo circadiano.

As pesquisas têm demonstrado que a alteração do horário pode afetar a saúde, especialmente de indivíduos mais sensíveis. É um convite para repensar os nossos hábitos e a relação com o tempo.

Os animais, à mercê do ciclo natural da luz solar, vivem em harmonia com o seu ambiente, respeitando os sinais que a natureza lhe dá. Não usam relógios nem aplicações do telemóvel. Eles sabem quando é hora de dormir, de caçar, de acasalar. O seu relógio biológico ajusta-se ao ciclo solar e lunar, sem a interferência de números, ponteiros ou distracções tecnológicas.

Em contraposição, os seres humanos, imersos em rotinas frenéticas e obrigações impostas, parecem ter esquecido a sabedoria de ouvir o seu corpo, no entendimento de João Pires autor.

Neste contexto, a ideia da "greve dos relógios" ressalta com um certo sentido de urgência. Não deveria ser um ato simbólico e colectivo, mas uma decisão individual. Parar para escutar os nossos corpos pode ser o primeiro passo na senda de um equilíbrio perdido.

Afinal, o que importa realmente? O que dizem as horas ou o que o nosso corpo clama?

Como em movimentos dos trabalhadores ao longo da história — como os grevistas da Timex, que uniram vozes em prol de melhores condições — nós também precisamos de reivindicar a nossa própria autonomia sobre o tempo. Por que não fazermos uma pausa nesta corrida desenfreada e refletirmos sobre a qualidade do nosso sono, sobre a importância do descanso e da desconexão?

A hora que se atrasa pode carregar um significado mais profundo que simplesmente um ajuste nos relógios. É um lembrete de que a nossa sanidade e saúde dependem de um respeitador entendimento do ritmo biológico do corpo. De que serve termos mais horas se não temos qualidade de vida?

Portanto, neste domingo pode ser uma oportunidade. Ao atrasar os relógios, que possamos também atrasar as nossas preocupações, os compromissos excessivos e o corre-corre do quotidiano.

Que possamos ouvir o que o nosso corpo realmente precisa, deixar que ele tome as rédeas enquanto nos permitimos o cumprimento dos ciclos naturais. Os relógios podem parar, mas nós não devemos. Com isso, cada um de nós poderá reencontrar o seu compasso, a sua própria verdade, no tempo que é de facto nosso. 

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