As eleições presidenciais de 2026 começam a tomar contornos mais definidos, e o debate sobre os possíveis candidatos ganha força, com os bastidores a fervilharem, ainda que a maioria dos nomes não tenha sido oficialmente anunciada.
Entre a esquerda e a direita, o cenário é de expectativas elevadas e tensões palpáveis. Algumas figuras começam a emergir, com maior ou menor credibilidade, como opções viáveis para o cargo mais alto da nação.
À esquerda, surge mais um nome, mas, na minha opinião, trata-se de uma candidatura que carece do perfil adequado para a responsabilidade e os desafios que um Presidente da República enfrenta. Aparece como uma figura que “namora todos, mas não ama ninguém” – um traço de ambiguidade política que poderá revelar-se contraproducente numa função que exige clareza de princípios, firmeza e um forte sentido de Estado. Já à direita, o PSD parece manter-se firme na decisão de apoiar apenas um dos seus militantes, deixando assim em aberto nomes como Marques Mendes, que se apresenta de forma constante como o número dois para qualquer posição, ou Santana Lopes, cuja disponibilidade parece ser proporcional à falta de outros interessados dentro do partido.
Dentro deste cenário, o Partido Socialista também se encontra em pleno dilema interno. António Costa e António José Seguro, figuras centrais da política portuguesa, mantêm uma relação de forte rivalidade, marcada por um constante jogo de desconfianças e disputas políticas. Esta relação conturbada poderá condicionar a capacidade do PS de se unir em torno de um único candidato, o que abre espaço para figuras externas à política tradicional. Nesse sentido, vejo o almirante Gouveia e Melo como uma figura promissora, cujo perfil parece alinhar-se com as necessidades de um momento de grande complexidade e desafios nacionais e internacionais.
Um Presidente para os Tempos que Correm
Num mundo cada vez mais caracterizado pela incerteza e pelas crises globais que afetam diretamente os interesses de Portugal, o país precisa de um Presidente da República que vá além das dinâmicas partidárias, alguém que reúna as qualidades necessárias para agir com firmeza e eficácia. Não se trata apenas de um cargo cerimonial, mas de uma função de liderança estratégica, especialmente quando se enfrentam adversidades internacionais. A História mostrou-nos que, em tempos de grandes dificuldades, figuras como Charles de Gaulle ou Winston Churchill – cujas decisões e visões estratégicas foram decisivas para os destinos dos seus países – se destacaram pela sua capacidade de liderança e pela determinação em momentos de crise.
É neste contexto que o almirante Gouveia e Melo surge como uma opção interessante. O seu percurso militar e a sua capacidade de liderança durante a pandemia de Covid-19 demonstraram a sua competência e assertividade em tempos de grande incerteza. Gouveia e Melo mostrou, de forma clara, como a sua experiência militar pode ser uma mais-valia numa função que exige, acima de tudo, capacidade de decisão, pragmatismo e visão estratégica. Em momentos como o atual, em que a Europa enfrenta ameaças complexas, desde a guerra na Ucrânia até às divisões internas entre os Estados-membros, uma liderança firme e decidida pode garantir a Portugal um papel ativo e relevante no cenário europeu.
Lições da História e os Desafios Contemporâneos
A História é clara no que diz respeito ao papel crucial de líderes com perfil militar quando a situação exige decisões rápidas e uma visão de longo prazo. Os exemplos de líderes como De Gaulle ou Churchill são frequentemente evocados como ilustrações de figuras capazes de mobilizar os seus países para enfrentar grandes desafios. O atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com todo o respeito que lhe é devido, tem-se mostrado mais como um moderador e um cronista do que como um líder assertivo capaz de impulsionar mudanças significativas num momento em que Portugal e a Europa enfrentam uma multiplicidade de crises simultâneas. A sua abordagem conciliatória tem o mérito de manter a coesão interna, mas talvez careça do ímpeto necessário para a liderança decisiva que os tempos atuais exigem.
O contexto global é desafiador: a guerra na Ucrânia continua a ameaçar a estabilidade do continente, a economia mundial enfrenta instabilidades consideráveis e as questões climáticas ganham uma urgência crescente. Além disso, as tensões sociais dentro da própria União Europeia criam um ambiente de incerteza que exige uma liderança capaz de navegar em águas turbulentas. Não se trata apenas de reagir aos eventos, mas de agir proativamente para garantir a segurança e o progresso do país.
Neste cenário, um perfil como o de Gouveia e Melo, que já provou a sua capacidade de liderança e de decisão em momentos críticos, pode ser a chave para uma presidência que não se limite a representar, mas que seja um pilar da estabilidade e da ação política. No entanto, não podemos ignorar a possibilidade de que outros nomes possam surgir como alternativas, sendo Passos Coelho uma dessas figuras com um perfil muito específico, ainda que divisivo. O ex-primeiro-ministro, uma espécie de “arma secreta” do PSD, é uma figura com uma grande experiência política, embora com uma relação algo distante do eleitorado fora do seu partido. A sua postura pragmática e a sua experiência de governo podem ser decisivas em momentos de crise, mas será necessário ver se conseguirá conquistar a confiança de uma base eleitoral alargada.
Um Candidato para Portugal e para a Europa
Portugal necessita de um Presidente que seja mais do que um mero moderador interno. O país precisa de uma figura capaz de representar a sua dignidade e força no cenário internacional, particularmente numa altura em que o mundo atravessa uma das suas fases mais conturbadas. Ao observar os potenciais candidatos, vejo em Gouveia e Melo a possibilidade de um líder com a visão necessária para enfrentar os desafios de uma época em que a estabilidade política e económica está longe de ser garantida.
O seu perfil, inspirado na disciplina e na capacidade estratégica típicas de uma carreira militar, poderá representar um sopro de ar fresco numa política nacional que, por vezes, parece marcada pela indecisão e pelo compadrio. Gouveia e Melo tem a oportunidade de se afirmar como uma figura que pode unir o país em torno de um projeto comum, tal como fez o General Ramalho Eanes, amplamente reconhecido como um dos melhores Presidentes da República que Portugal já teve. Curiosamente, Eanes também foi apoiado por uma união de forças militares e políticas, o que levanta a questão: será que, em 2026, uma aliança semelhante, possivelmente envolvendo figuras do setor militar e do governo, também poderá ser uma realidade? O futuro dirá.
Porém, uma coisa é certa: Portugal precisa, mais do que nunca, de uma liderança forte, capaz de enfrentar os desafios que se avizinham, e de uma figura presidencial que inspire confiança, tanto dentro como fora do país. A presidência não deve ser apenas um cargo de representação, mas uma função ativa na definição do rumo de uma nação. A escolha do próximo Presidente da República será decisiva para os tempos de incerteza e complexidade que estamos a viver.