As eleições autárquicas de 12 de outubro já passaram, mas o país político local continua em movimento.
A campanha terminou, os votos foram contados, os eleitos tomaram posse — e agora começa a parte verdadeiramente difícil: governar. Foram 10 dias intensos de campanha, feitos de proximidade, desgaste, debate e escuta. Dez dias em que o relógio parecia correr mais depressa do que o corpo, mas em que se provou que a política de chão ainda existe — e ainda faz sentido.
Não foram dias de espetáculo, foram dias de trabalho. E quando a política se reconcilia com a sua essência, o resultado sente-se: não apenas nas urnas, mas no respeito conquistado.
Contudo, a democracia não é um palco de vencedores absolutos. Há sempre quem vença e quem fique na oposição. E se a vitória traz responsabilidade, a oposição traz outra forma de dever. Como lembrava Aristóteles, “a política existe para que homens livres governem homens livres”. Isso significa que a democracia não termina no dia da eleição — prolonga-se no diálogo, no confronto de ideias e na vigilância cívica.
Num tempo em que a frustração pós-eleitoral é muitas vezes tratada como derrota pessoal, importa recordar que a oposição também recebe um mandato do povo. Também representa vozes. Também carrega legitimidade. E, por isso, também deve ser dignificada.
Maquiavel, tantas vezes citado apenas pela metade, escreveu que “os governos estáveis são os que não temem o escrutínio”. A democracia local ganha qualidade quando quem governa aceita ser observado, questionado e até contestado — e quando quem fiscaliza o faz com seriedade, sem o desejo de destruir, mas com a vontade de melhorar.
A partir de agora, governo e oposição partilham um território comum: o mesmo concelho, as mesmas pessoas, os mesmos problemas. O voto separa funções, mas não separa responsabilidades. Uma democracia adulta não vive da hostilidade permanente, mas da tensão saudável entre quem decide e quem vigia.
Como escreveu Jean-Jacques Rousseau, “a força não faz o direito; só a vontade do povo pode legitimar o poder”.

