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Foto: DR


Neste mês de novembro, temos a honra de apresentar uma entrevista com Ana Santos, uma escritora promissora.

Com uma formação enraizada nas Humanidades e uma paixão pela escrita que remonta aos seus 15 anos, Ana partilha connosco o seu caminho até à publicação do seu romance «Confissões», onde mergulha nas suas vivências e emoções. A autora reflete ainda sobre o papel crucial da poesia na literatura contemporânea e a importância de comunicar ao público as obras de outros escritores. Através das suas palavras, é possível perceber as nuances da sua abordagem literária, os desafios que enfrenta como apresentadora de livros e os conselhos valiosos que oferece aos jovens escritores. Preparem-se para uma conversa profunda e rica sobre a arte de escrever e os desafios do mundo literário, com uma autora que combina sensibilidade e um olhar atento à sociedade actual.

Entrevista de João Pires a Ana Santos

P: Como é que a sua formação e experiência profissional influenciam a sua escrita e a sua abordagem à literatura?

R: A minha formação incidiu sobre Humanidades e História, cuja influência ajudou a desenvolver a minha inclinação para a escrita. E mais tarde, apesar de ter seguido uma outra vertente curricular por influência da minha atividade profissional, esta não tem tido qualquer influência na minha escrita nem na minha abordagem à literatura.

P: O que a levou a publicar o romance «Confissões»? Pode falar-nos um pouco sobre a história por detrás da obra?

R: Um desejo que, desde os meus 15 anos, alimentava ao escrever o meu diário, em que surgiram as primeiras descrições da minha vida e os primeiros poemas. E quanto mais lia os clássicos da nossa literatura, maior vontade tinha em escrever um livro e publicá-lo. Procurei, em determinados momentos, algumas editoras que não me responderam ou, ao fazê-lo, indicavam que não estavam a aceitar originais. Simplesmente, resignei-me, mas sem nunca perder a crença de que seria possível concretizar tal anseio. E, por altura do lançamento de uma antologia de poesia em que participei pela primeira vez, surgiu a oportunidade. E o romance, digamos que quase autobiográfico, «Confissões», tornou-se uma realidade um ano depois.

P: Enquanto apresentadora de livros, quais são os desafios que enfrenta ao promover obras de outros autores? 

R: Quando se faz uma apresentação de um livro de outro autor, mesmo breve que seja, é uma grande responsabilidade identificar o livro em causa e o seu autor, pois procura-se fazer uma sincronização entre os dois. Porque um não está dissociado do outro. Independentemente da matéria abordada e da personalidade do escritor que a desenvolveu, quem lê o livro, lê o autor e assim terá que criar a «bolha» que envolverá o leitor ao livro e ao escritor. Daí, haver uma responsabilidade acrescida neste tipo de tarefa.

P: Pode descrever a sensação que sente ao comunicar ao público uma obra literária que aprecia?

R: Sendo muito sensível ao tipo de temas que os outros autores nos apresentam nos seus livros, envolvo-me mais, ou menos. E quando aprecio de facto uma obra, gosto de transmitir as minhas emoções na dissertação do conteúdo da mesma, mas também de chamar à obra e ao autor o público alvo. É preciso observar quem temos como público e aí envolver os mais atentos, mas também os menos atentos. É preciso que venham de encontro às minhas palavras para em seguida se direcionarem para a obra e para o autor.

P: Podendo estar frente a frente, qual seria o autor ou autora que escolheria para ter uma conversa e pedir para autografar um dos seus livros?

R: Helena Sacadura Cabral, enquanto autora de uma escrita sensível e observadora da vida. Gostaria de desenvolver uma conversa com ela a partir de um dos seus livros e deixá-la fluir para o contexto da nossa existência na sociedade atual.

P: Como define o seu estilo de escrita? Existe uma temática ou um estilo que mais a fascina?

R: Enquanto escritora, a narrativa faz parte da minha identidade. Neste caso, gosto de descrever o que observo e contar histórias, sejam elas reais ou fictícias. Ou seja, onde o tema sobre famílias, amor, amizade, solidão, etc. refletem quem sou. Assim, enquanto poetiza, a poesia livre é o desflorar constante desses temas.

P: Na sua opinião, qual é a importância da poesia na literatura contemporânea?

R: Um poema transmite emoções, pensamentos e estados de espírito variáveis, dependendo da forma como o seu autor vê e sente o mundo que o rodeia e, a si próprio. Na literatura contemporânea, nota-se cada vez mais a necessidade de exteriorizar a essência do homem e a poesia é, para muitos, pedra basilar dessa exteriorização, permitindo largamente o extravasar de ideias, de comportamentos, de despertar consciências, de relacionar-se com os seus próprios sentimentos servindo como terapia perante as experiências pessoais.

P: O que sente quando escreve? Há um sentimento ou uma emoção que a acompanha durante o processo criativo?

R: Sempre. Porque a minha poesia é emoção, é sentimento. Quando inicio esse processo, tenho a necessidade de transmitir o que se passa naquele momento e de o associar a toda uma série de símbolos, imagens, visões, que podem envolver a natureza ou outro ser humano, como objetos inanimados ou em movimento e que vão de encontro à construção do poema e ao objetivo final.

P: Quais são os autores que mais a inspiram e que acompanharam a sua formação como escritora?

R: Na prosa, Eça de Queiroz, Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Rosa Lobato Faria e na poesia Luís de Camões e Manuel Neto dos Santos.

P: Nesta jornada literária, já enfrentou momentos de bloqueio criativo? Como os superou?

R: Sem dúvida. Desde que iniciei a minha atividade literária, mais ou menos regular, a falta de vontade em criar algo surgiu durante um período tranquilo e longo que deveria ter sido de maior concentração e criação. Enquanto anteriormente um texto ou um poema era criado num ambiente de solidão, de serenidade, aqui, constatei que consigo criar com maior frequência e desenvoltura quando a minha rotina diária é mais intensa e rica em sensações, permitindo desenvolver frases ou versos naqueles momentos. Assim, procuro escrever quando o stress ou a adrenalina são mais ativos ao longo do meu dia.

P: Para além de escrever, como é que se mantém ligada à comunidade literária?

R: Com alguma regularidade, sem que esta interfira com a minha vida pessoal ou profissional, assisto a alguns eventos literários como lançamentos e/ou apresentações de obras de diversas áreas, não somente enquanto romance ou poesia, participo em coletâneas de poesia, eventos online de poesia, revistas com artigos de opinião ou publicação de poesia, folhas literárias, como prefaciadora ou apresentadora, em entrevistas de rádio, alio a minha poesia a pintores, colaboro com entrevistas ou com a revisão de textos para desenvolvimento de obras de caráter histórico, ou revisão de poesia para coletâneas, organizo tertúlias de poesia ou jantares-tertúlias e faço parte integrante de um grupo de escritores que organizam debates sobre a escrita.

P: Que conselho daria a jovens escritores que estão a começar as suas carreiras na literatura?

A leitura é uma peça fundamental para sabermos escrever e alcançarmos a qualidade e a excelência, além de que é importantíssimo escrevermos de acordo com a nossa língua de forma a preservarmos a nossa identidade. Por isso, leiam. E aprendam o mais possível sobre a forma como se escreve ou se deverá escrever obedecendo a determinadas normas e parâmetros que a escrita impõe.

As últimas perguntas:

P: Quais são os seus projetos futuros na escrita?

R: Pretendo e sem ter uma linha temporal, publicar outro romance e o que mais falta me faz, publicar um livro de poesia. E posteriormente, continuar.

Novembro de 2024

Assim, numa conversa profunda e introspectiva, Ana Santos revela as multifacetadas influências que moldam a sua escrita e a importância da poesia na literatura contemporânea. A autora, que se lançou no mundo literário com seu romance «Confissões», expressa a emoção que sente ao criar, salientando que as suas palavras são sempre um reflexo da sua realidade e sensibilidade. Reconhecendo os desafios do papel de apresentadora de livros, Ana enfatiza a responsabilidade de se ligar aos leitores e aos autores, enquanto também partilha conselhos valiosos para jovens escritores, destacando a leitura como um pilar essencial para a formação literária. Com os olhos postos no futuro, a escritora planeia novas obras, incluindo um livro de poesia, prometendo, assim, continuar a enriquecer o cenário literário. Ana Santos não escreve apenas; ela vive a literatura, transportando com ela a esperança e a força das palavras que podem não só contar uma história, mas também transformar vidas.

João Paulo Pires 

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