As eleições americanas são mais do que uma escolha de líder para os Estados Unidos; são uma decisão que influencia o mundo inteiro, e a Europa sente particularmente o peso dessa mudança.
A cada novo presidente, a Europa adapta-se a um estilo e a uma política diferentes, sabendo que o seu próprio futuro está, em parte, ligado à Casa Branca. Será que esta relação, tantas vezes oscilante, é sustentável? E o que precisa a Europa de considerar a cada nova eleição nos Estados Unidos?
O Aliado Preferido
Para os líderes europeus, a escolha ideal seria sempre um presidente americano que privilegie o diálogo, o multilateralismo e a cooperação. Nos últimos anos, esta afinidade tem-se encontrado, sobretudo, em candidatos democratas. Com Joe Biden, por exemplo, a Europa viu restauradas algumas das suas ligações de confiança, como o compromisso com a NATO e com o combate às alterações climáticas. Este perfil de líder permite um trabalho conjunto que facilita o comércio, a segurança e a diplomacia ambiental.
Contudo, a Europa aprendeu também que não pode garantir que essa escolha será a regra. Com Trump, os europeus sentiram o peso de uma política de “América Primeiro”, onde as alianças eram vistas mais como interesses estratégicos do que como parcerias. A incerteza instalou-se, e a Europa viu-se pressionada a adaptar-se rapidamente, num momento em que precisava de estabilidade. Esta oscilação ensina-nos que a segurança europeia não deve depender exclusivamente da boa vontade de Washington.
Trump e a Questão da Ameaça
Pensar em Trump como uma ameaça para a Europa pode soar forte, mas os efeitos práticos das suas políticas foram sentidos com intensidade. A sua postura face à NATO abalou a confiança na segurança conjunta, ao questionar se os Estados Unidos continuariam a ser o principal pilar da defesa europeia. Para muitos líderes europeus, foi uma chamada de atenção: será que a Europa precisa de assumir mais responsabilidade na sua própria segurança?
No comércio, as tarifas impostas aos produtos europeus criaram tensões que afetaram indústrias inteiras, colocando em risco empregos e investimentos. Além disso, a saída dos EUA do Acordo de Paris trouxe um momento de apreensão nas políticas ambientais, num tempo em que a união de esforços é essencial para combater as alterações climáticas. Estes desafios trouxeram à tona uma questão que a Europa precisa de enfrentar: até que ponto pode continuar a depender de um parceiro tão volátil?
O Caminho da Autonomia Europeia
Cada eleição americana lança a Europa numa encruzilhada. Por um lado, os líderes europeus sabem que uma parceria sólida com os Estados Unidos facilita a resposta aos grandes desafios globais, como a segurança, o comércio e o ambiente. Mas, por outro lado, a história recente mostra que a Europa precisa de começar a preparar-se para uma postura mais independente. Este caminho implica investir em capacidades de defesa próprias, fortalecer a economia interna e liderar, por si só, as políticas climáticas.
A relação com os Estados Unidos continuará a ser vital, mas a Europa pode olhar para o futuro com o objetivo de construir uma união que não dependa exclusivamente do apoio americano. Afinal, o equilíbrio e a resiliência de uma Europa forte e autónoma podem ser a chave para uma parceria mais igualitária com os EUA – uma parceria onde ambos os lados se complementam, mas nenhum depende exclusivamente do outro.