Ex-funcionário do IPO de Coimbra confessa crimes de peculato e corrupção passiva atribuídos a vício de apostas
Na manhã desta quinta-feira, o Tribunal de Coimbra ouviu o testemunho emotivo de Sérgio Pereira, um antigo funcionário do Instituto Português de Oncologia (IPO), que, em lágrimas, assumiu a responsabilidade por crimes de peculato e corrupção passiva. Os delitos, que ocorreram entre 2019 e 2023, envolveram o desvio de dinheiro a utentes que se encontravam na instituição para realização de exames de Imagiologia.
O arguido, de 41 anos e a trabalhar no IPO desde 2006, revela ter tirado dinheiro aos pacientes que deixavam os seus pertences pessoais nos vestiários. Em declarações no tribunal, Pereira admitiu que o seu comportamento criminoso esteve ligado a um "vício" em jogos de azar, nomeadamente em apostas desportivas feitas na plataforma Placard. Este vício, segundo a sua confissão, originou uma escalada de dívidas que o levou a cometer ilícitos para sustentar a sua compulsão.
A procuradora do Ministério Público, durante a fase de alegações, destacou que o ex-funcionário não só furtou quantias monetárias, como também solicitou "cunhas" a utentes, em troca de favores dentro da instituição. De acordo com a acusação, o modus operandi de Sérgio Pereira consistia em abordar os pacientes ou familiares com pedidos disfarçados, aproveitando-se da vulnerabilidade em que se encontravam.
A sessão de julgamento, marcada por momentos de grande tensão emocional, foi bem marcada por um ambiente de perplexidade face à quebra de confiança por parte de um profissional de saúde. Em relação às sanções, a defesa argumentou que o arguido merecia uma segunda oportunidade, uma vez que estava a procurar tratamento para o seu vício, o que, segundo a assistência, poderia demonstrar um passo em direção à reabilitação.
Este caso traz à luz a discussão sobre a responsabilidade ética dos profissionais de saúde e a necessidade de acompanhar e tratar questões de adição, que podem transformar a vida de quem as suporta e impactar profundamente aqueles que, vulneráveis, confiam nas instituições de saúde para receber o cuidado de que necessitam. As condenações para crimes de peculato e corrupção passiva podem ser severas, o que colocará Sérgio Pereira numa situação legal delicada, além das consequências pessoais e profissionais que já enfrenta.
O julgamento prosseguirá, e espera-se que nas próximas sessões sejam apresentados testemunhos adicionais, bem como provas que ajudem a esclarecer na totalidade as circunstâncias que levaram a estes crimes e que deixarão marcas na vida de todos.