Dezenas de pessoas compareceram no domingo a um evento de homenagem ao diplomata português Aristides de Sousa Mendes em Nova Iorque, com o momento mais emotivo registado durante a exibição do filme “O Cônsul de Bordéus”.
À Lusa, o impulsionador de projetos em memória de Aristides de Sousa Mendes, João Crisóstomo, fez um balanço positivo do evento que decorreu na Igreja Eslovena de São Cirilo, em Manhattan, e que homenageou também o humanista brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas.
"Na minha opinião, e pelos comentários que ouvi, o evento foi muito bom. Acredito que o disseram com sinceridade, pela firmeza e convicção com que exprimiam os seus comentários e opiniões. Acabada a projeção do filme 'O Cônsul de Bordéus', isso era evidente pela emoção de uns e por algumas lágrimas de outros que não as conseguiam disfarçar", contou João Crisóstomo.
O evento, que assinalou os 70 anos da morte dos dois diplomatas, contou com uma missa católica presidida pelo arcebispo Gabriele Giordano Caccia, o observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas.
Segundo João Crisóstomo, a iniciativa procurou dar destaque à consciência e coragem que Sousa Mendes e Souza Dantas demonstraram durante a Segunda Guerra Mundial, de forma não só a lembrá-los, mas a usá-los como exemplo e inspiração quando ocasiões com alguma similaridade se apresentarem.
O organizador do evento explicou que o motivo de juntar Sousa Mendes e Souza Dantas na mesma celebração partiu das similaridades entre ambos: "Ambos de língua portuguesa, ambos diplomatas, encontravam-se ambos em França no início da Segunda Guerra Mundial, ambos resolveram desobedecer às diretrizes dos seus Governos e deram vistos aos refugiados que desesperados os procuravam para fugir aos nazis e campos de concentração onde a maioria acabava asfixiada e logo incinerada".
"Mais tarde ambos foram condenados em tribunais pelo que fizeram. E, nas suas defesas, em anos e locais diferentes, sem saberem um do outro, ambos declararam ter agido assim porque assim lhes mandava a sua consciência de cristãos. Os dois vieram a ser reconhecidos e honrados pelo Yad Vashem [memorial oficial de Israel às vítimas do Holocausto]. E, como que com carimbo de comum destino, vieram a morrer no mesmo mês e no mesmo ano, a escassos dias um do outro: Aristides a 03 de abril e Souza Dantas a 16 de abril de 1954. Portanto, fazia sentido falar dos dois", explicou Crisóstomo.
No domingo, entre as figuras presentes na homenagem aos dois humanistas estavam a embaixadora de Portugal junto das Nações Unidas, Ana Paula Zacarias; Sandra Mendonça Pires, em representação da Embaixada de Portugal em Washington; o autarca de Mineola, o luso-americano Paulo Pereira; e representantes de comunidades portuguesas nos Estados Unidos.
João Crisóstomo, que com os restantes membros do Comité do "Dia da Consciência" promoveu esta homenagem, passou anos a insistir no apoio do Vaticano e das instituições portuguesas a um projeto de celebrações anuais em diversos países, que, a 17 de junho, assinala o dia em que o cônsul português em Bordéus Aristides de Sousa Mendes deu prioridade à sua consciência em vez das regras administrativas e ajudou a salvar dezenas de milhares de pessoas do Holocausto, com autorização de vistos e passaportes.
Antigo mordomo de Jacqueline Onassis Kennedy, ex-primeira-dama dos Estados Unidos, em Nova Iorque, João Crisóstomo serviu-se dos contactos que fez durante a sua vida toda para lutar, entre outras causas, pela memória de Aristides de Sousa Mendes.
"Devemos relembrar Aristides de Sousa Mendes para não ser esquecido. Mas a razão primeira é que, ao lembrá-lo, lembramos a sua coragem em ajudar os outros. Devemos relembrá-lo para nos lembrarmos de que, tal como ele, hoje também temos de ter coragem para fazer o que está certo e precisa de ser feito, mesmo que isso exija esforço e mesmo sacrifício da nossa parte, sobretudo para ajudar os que, sem culpa, são pobres e precisam da nossa ajuda", defendeu o português.
Por ocasião dos 70 anos da morte dos dois diplomatas, o Comité do “Dia da Consciência” pretendeu, com este evento em Nova Iorque, “manter vivo o legado destes dois humanistas, para que a coragem destes dois grandes seres humanos continue a ser inspiração e força motivadora de semelhante procedimento nos nossos dias”, sustentou ainda João Crisóstomo.